Horário de Brasília

sexta-feira, março 31, 2006

MUNDO - Libertada a refém americana

Por Carine Roos

Depois de longos três meses de cativeiro, refém americana é libertada no Iraque. A jornalista americana Jill Carroll de 28 anos deu sorte. Ela foi libertada na quinta-feira passada, sendo sequestrada em Bagdá no dia 7 de janeiro quando ia entrevistar o político sunita Adnan al Dulaimi.
Seu tradutor, que já não teve a mesma sorte, foi morto cerca de alguns metros do escritório de Al Dulaimi.
Em uma estação televisiva de Baghdad Carroll declara: "É preciso que fique bem claro que eu fui bem tratada, havia comida e um banheiro e a única coisa que eu quero nesse momento é encontrar a minha família".
Os sequestradores de Carroll, possivel grupo auto denominado Brigadas da Vingança, exigia a libertação de todas as prisioneiras iraquianas, ameaçando matar a jornalista.
O prazo venceu sem que houvesse nenhuma notícia sobre a sua situação. Vários vídeos com as exigências foram divulgados em redes de televisão árabes. Autoridades iraquianas colocaram várias das presas em liberdade, mas afirmaram que sua decisão não tinha nenhuma relação com as exigências dos seqüestradores.
Carroll realmente deu sorte, bem sabemos os maus tratos sofridos que ocorrem com jornalistas em cativeiros, na melhor das hipóteses tem-se membros decepados como orelhas, ou dedos, muitas vezes não tendo nem lugar pra evacuar, se não a execução sumária com golpes sequenciais e torturas, basta lembrarmos do caso Tim Lopes.

quinta-feira, março 30, 2006

TELEVISÃO – Numa casinha do Projac...

Por Peu Lucena


Teve fim nesta terça-feira a sexta edição do Big Brother Brasil. E mais uma vez ficou explicita a preferência e priorização de alguns valores em detrimento de alguns outros essenciais para o espírito do programa.
Esta edição foi, sem dúvidas, a edição dos espertos mais ingênuos que o Brasil já teve o prazer de contemplar. Na última edição, uma carioca meio atiradinha e que se uniu à quadrilha dos jogadores assumidos (Tatiana) disse à Veja: “No Brasil só fica no Big Brother quem é bonzinho, na próxima edição eles poderiam colocar só padres e freiras na casa.”. E a globo parece ter ouvido a moça, na última edição colocaram um monge e mais uma dúzia de outros santos. Incrível ver como eles eram bonzinhos, incrível ver como eles diziam-se não jogadores mas desciam o sarrafo nos coleguinhas na hora de voltar, mais incrível ainda era ver a carinha que eles faziam e a vozinha fina, quase angelical que era pronunciada ao Bial quando eles tentavam justificar que adoravam os parceiros, mas quanto mais longe eles estivessem do projac melhor.
Um tal de Agostinho, nossa, que ator! Ele expressava uma cara de “to aqui mendigando uma graninha, não sou tão bonzinho, mas sou pobre e sou feliz, me ajudem e fiquem com a consciência limpa para o resto de suas vidas, até que o próximo Big Brother nos separe. Amém”.
O monge como um anjo de pureza, não tinha sexo, hora elogiando e ameaçando beijos homossexuais, hora tentado e fugindo de um namoro com uma morena fogosa. Mas sempre com a ingenuidade de um bebê. “Opa, eu votei nele? É pra sair da casa? Ha, não sabia, desculpa!”
O único que realmente não fez questão de esconder que estava jogando foi o Rafael. Mas forçou a barra na linha Dhomini (vencedor do BBB 3). Ser brincalhão e palhaço é ótimo, divertido, mas tem uma hora que o limite da racionalidade é quebrado. A velha frase filosófica “fui eu o tempo todo” já ta cansando. Ok, em casa você passa do dia de sunga se exibindo para o espelho, troca de sunga debaixo de uma almofadinha minúscula e ainda diz que seu sonho é a world peace? Fala sério.
O BBB é o único jogo do qual eu tenho notícias no qual quem ganha é quem não joga, ou melhor, quem consege esconder por três meses que está jogando, não se valoriza a inteligência, se enaltece e repara-se a pobreza. E assim vivemos num mundo feliz, até janeiro do ano que vem.

quarta-feira, março 29, 2006

COMPORTAMENTO - Adjetivos - os rótulos que a sociedade moderna criou

Por Gabriela Rocha


Após séculos caladas e sofrendo os mais diversos abusos, as mulheres se libertaram, queimaram seus sutiãs, e popularizaram a expressão machismo. Atitudes completamente normais e, até poucos antes, se tornaram crimes. E o adjetivo machista passou a ser associado a um comportamento opressivo, violento e altamente reprovável.
Em decorrência do machismo surgiu o feminismo. As mulheres, para vencerem essa disputa, tentaram inverter os papéis e levaram a tal extremo que estariam dispostas a assumir o papel de opressora.
Após décadas nesta batalha de “ismos”, estamos tentando deixar de lado a vontade de se sobrepor, percebendo que somos diferentes e que cada um tem seu papel na sociedade, podendo (em tese) viver em harmonia.
Como já esgotamos toda esta discussão sobre batalha dos sexos, atualmente, estamos nos “recategorizando dentro de nossas próprias categorias”. Antes, indivíduos do sexo masculino eram apenas homens. Hoje, são Metrosseuxuais, Übersexuais, Trogloditas...
Metrossexuais são aqueles que assumiram sua vaidade e delicadeza se tornando consumidores de produtos extremamente ligados ao feminino como esmaltes, maquiagens, produtos de cabelos e todos esses apetrechos que as mulheres sempre utilizaram.
Übersexuais são metrossexuais com um certo “freio”, apreciam marcas, fazem uso de tratamentos estéticos, mas sem perder a característica tão marcante do homem: a virilidade.
Os trogloditas se recusam a utilizar todas essas coisas e se comportam como os “machos originais” sem refinamento, vaidade ou como os próprios dizem frescuras.
Não contentes apenas com o gênero, categorizamos também as idades. O que antes era apenas infância e vida adulta ganhou a adolescência. Mais recentemente a pré-adolescência e (ontem) a adultescência.
Adolescente é aquele que está na fase de transição entre a “liberdade” infantil e as responsabilidades da vida adulta.
Os pré-adolescentes estão entre a fase da infância e da adolescência (?) lidando com um mundo que os encara como crianças enquanto eles querem se afirmar com as atitudes de adolescentes inconseqüentes.
E o mais novo e fenomenal termo: Adultescente. No qual o adulto, para a sociedade, ainda se recusa a aceitar os valores característicos (como sustentar a própria casa) e continuam ligados à áurea de experimentação adolescente.
E assim, continuamos a nos dividir, categorizar, classificar procurando uma forma de nos encontrarmos em uma sociedade tão complexa. Nos igualando aos números que ao invés de simplesmente naturais se tornaram irracionais, reais, complexos, imaginários. Representando, talvez, nossa grande vontade de por ordem no caos de idéias, conceitos e sentimentos que vivenciamos no mundo moderno
.

terça-feira, março 28, 2006

CIDADE – No “pocotó” das Avenidas

Por Peu Lucena


Algum tempo atrás (na minha nerd opinião) eu não achava que o pior do trânsito de Brasília fossem os buracos, e sim, os remendos que eles fazem para tentar tapar os buracos. Hoje minha opinião mudou um pouco. O que realmente mancha o trânsito da capital planejada são os burros no volante e os jumentos nas carroças.
Não porque possa ser esteticamente feio ou démodé, coisa de interior. Mas sim porque enfrentamos cara-a-cara um perigo que anda de quatro e come capim. Não me refiro ao carroceiro, coitado, ele está ali por “força das circunstâncias” (termos clichês me rondam) e se pudesse escolher, optaria por também viver no mato comendo capim. Muito mais barato e econômico, o preço do capim silvestre nunca vai depender das exportações de soja, de bolsa de valores de Tóquio, ou muito menos se o Palocci continua ou não no emprego dele. O perigo está no jumento, mula, cavalo e afins.
Nós, condutores brasilienses, temos que competir espaço com “veículos” que não dão seta, não avisam que vão parar e acham bonitinho mais sem sentido uma luz vermelha em um cruzamento movimentado. Ficamos à nossa própria sorte, tendo que pilotar nossas carroças modernas com o triplo de atenção. A situação piora a noite, porque até onde eu saiba, eqüinos não brilham no escuro. A situação se torna caótica. Seja pra colher papelão ou pra fazerem “frete”, as nossas rústicas carruagens não atrapalham, mas tornam mais perigosa a jornada automobilística do motorista. Neste exato instante busco inspiração pra escrever ( que poético!) e um doce “pocotó” toma este silencioso e burguês Sudoeste.
O DETRAN afirma que as carroças estão sendo regularizadas e os carroceiros educados e habilitados. Sei não, já é alguma coisa. Não ensinam a ler, mas ensinam a parar na faixa quando o playboy bater o braço. Estranho.

segunda-feira, março 27, 2006

POLÍTICA - E a agonia da luta pelo poder chega ao fim...

Por Carmen Gonçalves

Nesta terça-feira, o ministro da fazenda Antônio Palocci pediu a demissão de seu cargo ao presidente Lula, que estava em viagem à Curitiba.
Após o depoimento do Presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Matos, deflagrou-se o real envolvimento do ex-ministro com o caso da mansão no Lago Sul, em Brasília, onde aconteciam reuniões para acertos mais específicos de mensalões com políticos e mulheres.
Quando se conheceu a versão do caseiro Francenildo Santos, à CPI dos Bingos, desmentindo o ex-ministro, a situação do governo, do presidente Lula e de seus homens-forte (dos quais Palocci era um dos últimos em pé) ficou extremamente complicada e suas imagens foram sumariamente constrangidas perante a nação. O caseiro afirmara, categoricamente, que o ex-ministro era freqüentador assíduo de tais festinhas. Dois dias depois, Palocci, em depoimento à CPI, negou firmemente. Em seguida, um misterioso extrato bancário do caseiro foi entregue ao relator da CPI, onde constava um depósito na conta de Francenildo de cerca de 25 mil reais, totalmente incompatível com seus rendimentos. Estava então instaurado o mais constrangedor dos cenários, não só pela quebra do sigilo ter sido ilegal, mas principalmente por haver a suspeita de que a ordem partira do então ministro Palocci. Na tarde de hoje, Jorge Mattoso, em depoimento à Polícia Federal, admitiu ter entregue em mãos o extrato bancário do caseiro ao ex-ministro e confirmou de que a ordem havia mesmo partido do alto escalão do Ministério da Fazenda.
Antes disso, durante a crise do mensalão, quando o governo Lula enfrentou sua maior crise política, Palocci também foi alvo de denúncias. O ex-ministro foi acusado de praticar irregularidades em seus mandatos como prefeito de Ribeirão Preto e ter recebido propina de uma empreiteira da cidade. Seu irmão, Adhemar Palocci, foi acusado de ter feito caixa dois para o PT em 2004. Palocci também sofreu denúncia de recebimento de dinheiro de Cuba e de empresários angolanos para a campanha de Lula em 2002, além de integrar grupo lobista no caso GTech-Caixa.

Enfim, após Dirceu e Genoíno, o último pino do boliche sinistro do PT caiu. Está certo que, em termos de vergonha, estamos muito bem servidos, afinal são sofridos meses desde que o assessor do nosso nobre ex-ministro e picareta foi flagrado se apossando de dinheiro de propina, também quando das revelações bomba que o ex-deputado Roberto Jefferson fez à CPI dos correios, fatos que resultaram na famosa e precursora da vergonha petista, a CPI dos Correios, que por sua vez trouxe por tabela a do Mensalão, com representantes ilustres do peso de Marcos Valério (aliás, por onde andas?) e de quebra, nosso bravo Congresso nos instaura da CPI dos Bingos, para não dizer que não falamos aqui de flores. Sim, está certo. Tudo se apura, mas curiosamente, nada sai do lugar. O que falta para vermos esta situação deprimente se acabar? Será que é muito querermos um final à la Collor? Não, não é. Os limites da cidadania, da ética, do bom-senso, da normalidade, da vergonha, do ridículo, da palhaçada, já foram, há muito, ultrapassados... pois não é que temos que assistir todos os dias os disparates e absurdos deste partido, que se diz do povo? Não são incríveis as palavras de calma e sabedoria que saem das bocas sujas destes homens? Que triste democracia, meu deus!

DENÚNCIA - O Novo Pânico Urbano

Por Suely Frota


Como se não bastasse nos agredir fisicamente, a onda agora é violentar o nosso psicológico!
Desde o ano passado, casos de trotes que ameaçam seqüestro-relâmpago têm acontecido constantemente. Investigações preliminarmente realizadas apontam que são ligações efetuadas dentro dos presídios do Rio de Janeiro (Bangu) e de Fortaleza. Os detentos utilizam-se dos mesmos argumentos para todas as vítimas. Na grande maioria as situações ocorrem a partir de telefonemas dados por pessoas que se identificam como sendo vinculadas ao Corpo de Bombeiros, noticiando que um familiar ou amigo sofreu um acidente no trânsito como uma forma de extrair da vitima os dados pessoais (nome, telefone e endereço) e quando por fim os tem em mãos, iniciam-se as ameaças.
Alegam estar com pessoas em cativeiro, amarrados correndo perigo de vida, e que se não for feito o pagamento da quantia por eles estipulada, a(o) refém morrerá. A quantia geralmente vai de mil a cinco mil reais, mas o que eles conseguem no máximo é mil reais em créditos no celular, sim ainda tem isso, se a pessoa não pagar em dinheiro eles pedem que seja pago em créditos no celular (geralmente clonados). Várias pessoas foram vitimas desse mesmo tipo de telefonema, mas este não é o único!
Essa mesma história aconteceu semana passada envolvendo minha família. No entanto a pessoa em questão teve a iniciativa de entrar em contato, através do celular, como a suposta refém. Imagine os casos em que, pessoas nessa mesma situação, não tenham procurado a vitima e tenham se rendido às ameaças dos bandidos?
Saber que um ente querido está nas mãos de bandidos deve ser aterrorizante, além de ser uma agressão psicológica. As pessoas que passam por este tormento dizem que o pânico é maior quando tentam desligar o telefone e os bandidos ameaçam matá-las ou matar a pessoa que dizem estar com eles. O que causa mais revolta é saber que tais situações ocorrem dentro das penitenciárias sob o olhar complacente das autoridades públicas que são pagas para proteger os cidadãos. Aonde vamos parar com tudo isso, se os responsáveis pela nossa “segurança” deixam tudo acontecer com essa impunidade?
Apesar de ser um TROTE, é preciso ter bastante cuidado. Aqui não vem a ser somente uma denuncia, é também um sinal de alerta! Infelizmente estamos submetidos a um mundo desumanizado. E pelo jeito só cabe a nós saber como se proteger!

sábado, março 25, 2006

CRÔNICA - Olimpianos da crise

Por Carine Roos
Se criássemos hoje um dicionário político no Brasil, a palavra crise viria como sinônimo de luta política, eleitoral. A lona está montada, o picadeiro pronto para mais um novo espetáculo.
Os holofotes agora se voltam para Francenildo, o Nildinho, o mais novo olimpiano, alvo certeiro da mídia.
O caseiro que também é cozinheiro, garçon, camareiro, fotógrafo, cameraman, repórter, motorista, barman, esteve como testemunha ocular de todos os fatos, sim presenciou com os olhos que a terra há de comer tudo.
Interrompido de poder falar, por uma decisão do STF, na CPI do caos total, ( aquela mesmo que você pensou, a criada para investigar dinheiro oriundo de casas de jogo), do mais novo recente escandâlo envolvendo Pallocci, segundo o qual visitava a casa alugada por ex-assessores da época em que foi prefeito de Ribeirão Preto.
Nildinho que até então havia R$ 24,76 na conta, saltou para um saldo de R$ 38.680,00 nos dias em que prestaria depoimento. Há quem acredite que a fonte dos depósitos seria de um pai distante, constrangido e acanhado, que se redimia frente ao filho que não reconhecera pelo fato de o caseiro ter vindo de uma bela pulada de cerca.
O íntegro e honesto caseiro se sente injustiçado, "Mexeram nas minhas contas", mal ele sabia que estava mexendo com fogo. Mal ele sabia que a atração principal era ele. Fez papel de palhaço? Passo a bola pra vocês leitores.

sexta-feira, março 24, 2006

MUNDO - A convicção das diferenças

Por Carmen Gonçalves

A Coréia do Sul terá uma mulher como primeira-ministra pela primeira vez na sua história, Han Myung-Sook, de 61 anos .
Parlamentar, ativista e feminista, Han foi designada pelo próprio presidente, Roh Moo-Hyun, na manhã de hoje, segundo diz o chefe de gabinete Lee Byung-Wan. Han, do partido Uri (o mesmo do presidente), ainda tem sua nomeação sujeita à aprovação pelo parlamento. Sendo o país mais homogêneo daquela região, existe lá uma minoria chinesa, que é frequentemente discriminada. Uma forte emigração de sul coreanos aconteceu após a segunda metade do século XX devido à instabilidade política e econômica que acometia o país, levando-os para várias partes do mundo, principalmente EUA, Canadá e Brasil. De tradições capitalistas, tornou-se uma forte economia mundial a partir de metade dos anos oitenta, seu PIB atual é cerca de 18 vezes maior que o da irmã, a Coréia do Norte.

Como todo o povo da Manchúria, os coreanos possuem costumes e crenças muito conservadores e moralistas. Apesar de algumas tradições serem diferentes dos japoneses, por exemplo, é notável o fato de que uma mulher, e de esquerda feminista, ser nomeada primeira-ministra, o segundo cargo mais alto de uma República Parlamentarista. A população, de um modo geral, recebeu razoavelmente a novidade, julgando que, com uma mulher no poder, condições de trabalho e separações culturais serão revistas. Há também um movimento feminista inflamadíssimo com a possibilidade de um maior espaço para as mulheres , o que é natural para uma sociedade capitalista, mas ao mesmo tempo extremamente complicado de se compreender em se tratando de Oriente.

No mesmo ano em que uma mulher foi eleita presidente no Chile - Michelle Bachelet, socialista e revolucionária da ditadura Pinochet – e no mesmo ano também em que um travesti e ator gay se candidata a deputado federal na Itália - Wladimiro Guadagno, ou ‘Luxuria’ (foto acima) – com grandes chances de vencer, a pergunta é: até quando existirão separações culturais e abismos sociais preconceituosos subjulgando o homem e dificultando um possível processo evolutivo intelectual e espiritual?

Há um movimento silencioso acontecendo e quase um processo natural se forma. Intolerâncias sociais são cada vez menos permitidas nas sociedades livres e abertas, o que proporciona uma reflexão sobre o desenvolvimento das relações hoje e como se dão as conseqüências deste desenvolvimento. Assim como a liberdade de expressão deve ser respeitada, acredito que a liberdade de postura, de convicção, de escolha, de qualquer coisa que seja deve ser mantida. É um exercício de nobreza e difícil para qualquer pessoa realizar, mas a tolerância deve, definitivamente, se tornar alicerce das relações atuais, pois as diferenças, que sempre existiram, estão se intensificando. As minorias, em todo o planeta, são cada vez mais sofridas e não falo aqui só de pobreza, como no caso da África. Falo de mulheres, como em parte do Islã, de latinos, como no caso dos Estados Unidos, de negros ilegais, como no caso da França, falo de índios, como no caso do Brasil, falo de guerra no caso do Haiti. Está aí, talvez seja esse o maior desafio para as novas gerações.

quinta-feira, março 23, 2006

ENTRETENIMENTO - Festa-show FMI 2006

Por Carmen Gonçalves

Vale a pena conferir!
O FMI, além de ser uma festa de arromba, este ano promete uma divulgação massacrante das bandas independentes da capital, além de 5 dias de palestras, workshops e pockets shows, que acontecerão no final de abril. Os detalhes e o calendário saírão na coluna de entretenimento da próxima semana!
E Brasília reafirma seu lugar ao sol.....

FESTA DE PRÉ-LANÇAMENTO

No sábado, dia 1° de abril, a Feira da Música Independente Internacional de Brasília (FMI 2006) será apresentada ao público brasiliense em festa-show de pré-lançamento, que acontecerá no Centro Comunitário da Universidade de Brasília (UnB), a partir das 22h.
O evento contará com shows das bandas Mundo Livre S.A (PE) (lançando o EP O outro mundo de Manuela Rosário), Cadabra (DF), João Ninguém (DF), Piramidi (DF) e Manofatura (DF), e som mecânico dos DJs Pezão e Barata (projeto Criolina), Marcos Pinheiro e Abelardo Mendes Jr. (programa Cult 22), além do lançamento das coletâneas CaçaBandas e Beats&Bites, produzidas pelo selo brasiliense GRV Discos (
www.grv.art.br).
Os ingressos serão vendidos a partir da próxima segunda-feira, dia 27 de março, na rede de lojas da Discoteca 2001, em Brasília, ao preço de R$ 15,00 (meia) e R$ 30,00 (inteira). Os primeiros 1.800 ingressos darão direito à aquisição de uma das coletâneas que estarão sendo lançadas na festa.


(fonte: Capital Comunicação e Marketing)

ENTRETENIMENTO - A síndrome da trilha sonora

Por Gabriela Rocha


Final de tarde chuvosa, transito, vontade incontrolável de chegar logo ao destino e encontrar a pessoa amada. Tudo isso, ao som da antiga I wish you love, versão de uma música francesa, gravada pela inconfundível voz de Frank Sinatra em 1964.
Cena de um filme de romance?Não! Apenas uma pessoa, em uma rua qualquer, com seu Mp3 player tocando.
Símbolo da modernidade, fones brancos, visual futurista, um pequeno aparelho capaz de armazenar centenas de arquivos! A obra do visionário Steve Jobs elevou o nosso nível de relação com a música. Hoje, vivemos procurando a melodia que se encaixe com o momento e estado de espírito que vivenciamos, como ocorre no cinema em suas trilhas sonoras perfeitas.
E ela está ali, ao alcance de seus dedos! Para quem, é claro, possui um Ipod (o que praticamente se tornou sinônimo de Mp3 Player).Se formos pensar, atitude essa impraticável há alguns anos.
Os Walkmans que, alem do rádio, nos possibilitava ouvir fitas. Eram horas tentando gravar a seleção perfeita e depois mais algumas horas tentando localizar qualquer coisa naquele sistema complicado de adiantar e voltar o conteúdo da gravação.
Praticamente uma revolução foi o surgimento do Discman, diminuímos o tamanho dos aparelhos e carregávamos mais músicas naquelas caixinhas redondas cheias de divisórias, os Porta-Cds. Os mais modernos gravavam as quinze canções preferidas e exibiam orgulhosamente a coletânea.
Hoje, temos nossos pequenos aparelhinhos e mil músicas a disposição. Isso me faz pensar: O que teremos em dez anos? Listas inseridas em chips cerebrais?!?! Assustador!
Um comentário rápido: Nesse momento ouço I wish you love não na voz de Sinatra, mas, uma versão de Nancy Wilson para a trilha de Vanilla Sky. Minha preferida entre todas as regravações desta música. Olha que são muitas!


Foto: http://www.kurthalsey.com/index.html

quarta-feira, março 22, 2006

POLÍTICA – A Cara-de-pau tem nome, tem NETO

Por Peu Lucena


Juro que ainda não me acostumei a ver a carinha ingênua deste nobre deputado estampada nos nossos nobres telejornais. Um rostinho meio maquiado, doido para não transparecer os angelicais 27 anos do nosso deputado.
Não entendo como a tão justa e imparcial Globo, com uma variedade incontável de políticos oposicionistas para entrevistar, escolhe a dedo nosso ilustríssimo ACM Neto.
É engraçado ver como os amadores se denunciam com jogadas de principiantes. ACMinho demonstrou que o vovô não tem cobrado a cartilha ultimamente. Autor de frases fantásticas, Neto se tornou a nova piada do congresso. A mais famosa, e na minha opinião, fantástica, foi a proferida durante uma entrevista no Jô, no auge do escândalo do mensalão: “Quem renuncia para não perder o mandato é culpado pelo resto da vida”. Das três uma, ou ele sofre de um caso raro de perda de memória, ou discutiu sério com o vovô e o respeito já desceu pelo ralo, ou ele realmente acha que brasileiro anda com nariz de palhaço e acredita em Papai Noel.
Eu realmente espero que tenha sido um lapso ou a emoção de estar no Jô que o fez esquecer do escândalo da violação de painéis em 2003 quando vovô renunciou para não perder os direitos políticos.
Mas a última do “tampinha”, como disse Ciro Gomes, foi ainda mais hilária: “O presidente da República, ou qualquer um dos seus que tiver coragem de se meter na minha frente, assim como disse o senador Arthur Virgílio, tomará uma surra. Não me intimido. Tenho coragem e vou até o fim. Não mexam com os meus nem comigo, porque estou pronto para me defender”. Ok, oposição sempre foi oposição e sempre pegou pesado. Mas daí um rapaz de vinte e poucos anos ameaçar com uma surra um velho presidente da república, chega a ser até imoral, no sentido mais cru e rude da palavra. Se pelo menos a linha do respeito não for seguida, o congresso deixará de ser essa divertida pizzaria e passará a um bordel de baixarias (Mary Jane iria gostar!).
Fica o conselho. Talvez correr menos atrás dos repórteres, respeitar mais os velhos (inclusive o próprio avô), pensar mais no que faz, tentar estabelecer uma carreira digna, um história descente, um nome. Porque só copiar o do vovô não ta dando muito certo. Porque em uma política cheia de Garotinhos e de Netos, o Brasil nunca abandonará as oligarquias que comandam esse país.

terça-feira, março 21, 2006

CIDADE – O Super-herói Brasiliense

Por Peu Lucena


A sua morada, que não é nada secreta (crio eu), se localiza entre a pista divisória do Cruzeiro com o Sudoeste e as quadras do próprio Sudoeste Econômico. Talvez embalado pela própria denominação do Sudoeste, que de econômico não tem nada, o nosso ilustríssimo super-herói se fixou no local a mais ou menos seis ou sete meses.
O HOMEM INVISÍVEL.
Este nobre ser desafia todas as leis do comportamento e as leis de sobrevivência na selva de pedras em que vivemos. Ele literalmente mora em uma sofisticada parada de ônibus. Eu não disse dorme, eu disse mora. No sentido mais completo da palavra nosso novo morador faz suas refeições, improvisa um fogão à lenha e ali mesmo prepara sua comida. Logo após, como todo bom brasileiro ele tira aquela soneca pra “assentar” o rango. A noite ele se recolhe ao seu quarto, quer dizer, eu já não sei se aquilo é uma parada de ônibus que virou quarto ou um quarto que virou parada. Colchão, cômoda e caixinha com alguma espécie de conteúdo que não consigo ver quando passo de carro.
Mas vamos logo ao superpoder mais notável de nosso herói. A invisibilidade. É simplesmente inacreditável a capacidade de não ser visto por carros da PM que passam freqüentemente no local. Inacreditável o poder de não ser visto pelos poderosos que circulam e moram em um dos bairros mais nobres do DF, mais que se fazem impotentes diante do nosso colossal super-herói. É inacreditável o descaso com esse homem que pelo desespero da necessidade se apossou de uma parada de ônibus, tirando dela sua fundamental função, tirando de si o direito de escolha e tirando de nós o direito de julga-lo.
Mais incrível ainda é saber que outros tantos como ele se abrigam em outras tantas paradas de ônibus, e que outros tantos burgueses como eu passam ao largo e apenas o analisam, assim, como uma mera anomalia social, como um mero fenômeno inacreditável.
Incrível é se deparar com o Brasil e não saber se empurro a culpa, se tiro o corpo fora, se olho, se estendo a mão, ou se viro as costas.

segunda-feira, março 20, 2006

DENÚNCIA - Falcão

Por Carmen Gonçalves


Neste domingo, fomos massacrados com quase duas horas de realidade dura, cruel e miserável, durante o Fantástico, com a exibição do documentário “Falcão, meninos do tráfico”. O rapper MV Bill, que inclusive faz parte da Cufa – Central Única das Favelas, - explorou, de forma inédita, a rotina dos garotos que trabalham para o tráfico de drogas em todo o Brasil, tiram seu sustento dele e muitas vezes fazem do tráfico seu status.
De forma assustadora vimos como meninos de todas as idades lidam com a miserável situação que os cerca, de pobreza e abandono.
Vimos como idolatram seus iniciadores no crime, os “fiéis”.
Vimos como se drogam para se manterem acordados durante a jornada noturna de vigia à favela.
Como se divertem, com as brincadeiras mórbidas de polícia e bandido, com fuzis e AKs-47 em punho e trouxinhas de maconha e cocaína na bolsa.
Como deixam de lado a escola e passam os dias dormindo, pois durante o dia periga tomarem um tiro se circularem nas ruas da favela.
Como trabalham com a morte prematura, como têm consciência da vida sem propósito e como são roubados de tudo que uma criança tem direito, segundo nos diz o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Vimos como, com a frieza de um general de guerra veterano, um garoto de no máximo 10 anos concluiu que se morresse hoje, um outro pior nasceria e tomaria seu lugar ou como um outro, um pouco mais novo, afirmou querer ser bandido quando crescer.
Vimos paralisados, atônitos a isso. Em muito tempo não haverá algo mais chocante do que aquelas horas foram. Ou talvez haja. Encontramo-nos numa situação de crueldade e miséria humana e social tão mais violenta do que muitas das barbáries que a História do homem nos mostra, que não seria surpresa para mim, uma série pior de depoimentos no noticiário de hoje a noite.
O documentário exibido pela Globo me fez pensar, sem a menor demagogia, que essas crianças não puderam escolher viverem nesse meio. Fez-me pensar que poderia ser eu ali naquela falta total de vida e esperança, ou pior, uma das pessoas que eu amo e quero bem. Talvez seja esse o grande mérito desse tipo de reportagem: nos dar aquele soco no estômago e nos fazer perguntar o que falta para um maior envolvimento social? Como ajudar, o que fazer para melhorar de alguma forma a vida dessas pessoas?
O brasileiro é, sem dúvida, um povo solidário. Temos, talvez pela nossa mistura de raças, uma identificação natural de compaixão com o próximo. Às vezes sinto, porém, que essa vida corrida, essa necessidade de viver para trabalhar, para ser melhor (necessidade?), está mudando esse ponto da nossa cultura. Às vezes acho que o preconceito racial e social está predominando. Eu mesma tinha esquecido do tempo em que dava aulas de informática para crianças carentes e como era bom fazer isso, como elas gostavam e como sentiram falta quando parei. Porque parei? Não encontro a resposta, me sinto mal com isso. Falta de tempo? Cansaço? Não sei dizer.
Desculpe-me leitor, fazer desse blog um desabafo neste dia. Espero ter cooperado para uma conscientização, ou pelo menos o início de um processo assim para quem estiver lendo. De alguma forma me faz sentir melhor: a imprensa pode ser sim, um poder incrível de propagação do bem. Podemos ajudar a diminuir o sofrimento dessas pessoas, e outras tantas, a partir do momento que vimos com clareza, tomamos consciência de que ele existe. Assim como ontem.

domingo, março 19, 2006

ESPORTE - Copa do Mundo: Expectativa, Preocupação e Emoção

Por Bernardo Borsato


O Brasil está em clima de Copa do Mundo. Faltam menos de 90 dias para a copa na Alemanha, a expectativa é grande e o otimismo atormentador. As seleções mundiais já estão praticamente definidas, só esperam a recuperação de alguns jogadores para a definição da lista de convocados.
As principais potências podem ter desfalques. Como é o caso da Itália, Argentina e Espanha. A Itália torce para a recuperação de seu maior craque, Francesco Totti, com uma grave lesão na fíbula. Na Argentina a preocupação fica por conta dos defensores Roberto Ayala (este quase recuperado) e Gabriel Heinze, ambos titulares absolutos da equipe. Um desfalque garantido é o atacante Luciano Figueroa, os três atletas com problemas no joelho. O Espanhol se alegra com a volta de Raúl, o queridinho da torcida do Real Madrid, mas a Espanha anda mal dos joelhos, Valerón e Xavi preocupam, e muito, o técnico da seleção espanhola Luis Aragones.
No Brasil o que preocupa é a fase de nossos principais atacantes. Ronaldo anda triste no Real, o jogador chegou a dizer que está no fundo do poço. Ronaldo é o rei das “voltas por cima” e como nas outras vezes a torcida fica para que ele marque muitos gols e traga o caneco para o Brasil.Já Adriano parece que os seus gols não querem sair, bola na trave, bolas fáceis, e como atacante vive de gols, o Imperador não vive um bom momento, mas garante que, com calma e confiança fará o povo sorrir, com belas atuações e gols! Uma boa notícia é que nosso capitão se recuperou bem de suas cirurgias, e o jovem veterano já treina normalmente no Milan.
A Copa mexe com o mundo, transforma nações, traz emoção para todos, momentos espetaculares estão por vir, e esperamos uma copa sem surpresas, com o Brasil consagrando-se héxa campeão mundial. Pra frente Brasil, salve, salve, a Seleção!

sábado, março 18, 2006

CRÔNICA - Será?!

Por Peu Lucena


Essa semana, mais uma vez, fomos alvo de um espetáculo esplêndido que aconteceu nas favelas do Rio e que teve o exército como estrela principal. Sem sombra de dúvidas dava um filme. Um filmezinho meio tosco, mais dava. O roteiro (que beleza de roteiro!) impressiona pela deslavadês dos fatos e pela cara de pau dos protagonistas.
Bem, vamos às cenas. Como todo bom filme, a primeira cena é bem tranqüila, mostrando algo do cotidiano do local onde se desenrolarão os fatos. No nosso caso um roubo à um depósito de armas do exército no Rio de Janeiro, coisinha básica. Em seguida passamos para um take onde a turma do colarinho branco se reúne e, com suor escorrendo pela testa, discutem o que fazer. “Não podemos recorrer às resoluções de praxe (não fazer nada), temos que impressionar, estamos em ano de eleição!” E esse é o inicio de uma jogada política e publicitária incrivelmente patética.
Que tipo de seres pluricelulares e desprovidos de raciocínio pensam que somos? A Globo tratava o assunto como uma ingênua menina virgem que apenas “reporta” os fatos. Será que é tão surreal assim pensar que colocar o exército nas favelas foi um joguete?! Primeiro para encenar para o Brasil todo ver e com a ajuda da ilustríssima Globo concluir: “Nossa! O problema da violência no Rio não é tão sério! Os índices de violência caíram pela metade. O nosso ilustríssimo Estado ainda tem o poder, conseguiram recuperar as armas, viva! Viva!”
Será que é muito difícil associar tudo isso com as eleições?! Alguém subjetivamente querendo dizer: “Ta vendo, quando eu quero, eu faço!”. Será que não ficou explícito que recuperar dez míseros fuzis (dos milhares fuzis do exército em poder dos traficantes) foi uma simples fachada?! Ninguém percebeu que os fuzis apareceram, mas não se sabe direito de onde, nem como, nem quem os roubou e por onde estiveram. O que? Alguém falou em acordo com os traficantes?! Será?!
Ninguém está meio confuso com o fato de que, se com os soldados nas favelas o índice de violência caiu pela metade, por que tirá-los de lá?! Ha, claro, no Haiti eles são mais importantes né? Ou quem sabe nos quartéis lavando farda.
Ninguém se incomoda com o fato da nossa menininha virgem não mostrar os protestos no Rio para que o exército continue na cidade. Mas será que é mesmo interessante acabar com o crime organizado? Espero sinceramente que o narcotráfico na cidade maravilhosa não tenha se tornado um mal necessário.

sexta-feira, março 17, 2006

MUNDO - Qual é o problema do Bush?

Por Carmen Gonçalves



Depois do fiasco que foi a guerra do Iraque, iniciada há 3 anos, os Estados Unidos estão prestes a iniciar “ataques preventivos” contra o Irã, país que eles consideram o mais problemático para a política externa (deles) atualmente. A famigerada Doutrina Bush: “o lugar da prevenção em nossa estratégia de segurança nacional permanece o mesmo ”, diz. Inacreditavelmente, Bush se concede o direito ao tal “ataque preventivo”, muito provavelmente o mesmo que houve no Iraque há três anos mediante uma alegação de que neste país havia armas perigosíssimas para a humanidade. Ah, nunca foram encontradas.
O Irã é um país interessante, de uma história bastante peculiar. Localizado bem no olho do furacão do Oriente Médio, foi a antiga Pérsia da Era Clássica, centro comercial do mundo antigo. Fazendo divisa, nos dias de hoje, com nada menos que Iraque ao oeste e Afeganistão e Paquistão à leste, e muito provavelmente, produzindo energia nuclear, o Irã é hoje, sem dúvida alguma, uma pedra no sapato de Bush.
Mas nem sempre foi assim. No século XX, até os anos 60, o Irã viveu uma democracia. Sob o comando do Xá Reza Parlev, os iranianos viviam com liberdade plena, as instituições eram sólidas e o regime aberto. Os tempos eram de diplomacia e política, amigos dos EUA e dos britânicos. E apesar disso, os costumes islâmicos não eram subjugados, as pessoas seguiam o Alcorão e os ensinamentos de Maomé. Mas não era uma situação confortável para os conservadores, ou fundamentalistas. Estes, os Aiatolás, tomaram o poder num golpe nos anos 70, a Revolução Islâmica, e desde então instituíram um regime fechado, cheio de restrições culturais e muito arraigado nos princípios de comportamento e moral fundamentalistas (diga-se de passagem, não são necessariamente passados através do Alcorão). Desde então, uma guerra silenciosa com os EUA começou. Principalmente a partir de 2001, com o atentado às torres gêmeas e também com o anúncio do governo iraniano de que eles possuem um programa nuclear em desenvolvimento, em 2003.
Após a captura de Saddam Hussein, o foco de Bush passou a ser o Irã, o problema principal, o Iraque, acabou (ou você acha mesmo que Bush está preocupado com o bem-estar do povo iraquiano?). O Iraque é hoje o que sobrou de um país. Um povo escondido e assustado, com marcas de metralhadora nas paredes de suas casas. A Palestina, após a morte de Arafat, fundador da OLP, deixou de ser o fantasma dos atentados terroristas dos anos 70 e 80. A Coréia do Norte, mesmo possuindo um programa nuclear, está tão vendida ao capitalismo, que francamente, está longe de ser uma ameaça à terra prometida, neste caso os Estados Unidos, humildemente. A Rússia anda há bons 10 anos na iminência do caos. Na verdade, os russos nunca se recuperaram da guerra.O Irã agora é o problema. Além da questão comercial, dos embargos, do petróleo, do programa nuclear, existe um agravante: a influência que os fundamentalistas islâmicos exercem sobre o movimento terrorista que se formou contra os EUA. Há uma tensão e um pavor no ar, que certamente está deixando George Bush sem sono. Coitado deste pobre diabo.

quinta-feira, março 16, 2006

CULTURA – O segredo

Por Peu Lucena



Acabei de assistir (mais uma vez), agora com o peso do Oscar e com um olhar de crítico de cinema (ó pretensão!).
Realmente o filme surpreende, e o faz justamente por passar longe de toda aquela desnecessária pirotecnia hollywoodiana. Almodóvar tava aí pra quem quisesse ver e aprender como se faz filme de verdade, mas a maquininha californiana de fazer dinheiro sempre ignorou o sentimento e a pureza humana, sempre vangloriou superproduções onde o mais importante eram os efeitos especiais e aquela tragédia gostosa de se ver no final (vide Titanic, Gladiador, Senhor dos Anéis). O segredo de brokeback mountain surpreende por que?
O segredo foi ter acertado a mão no tema, um tema difícil de se tratar, fácil de falar e filosofar em novelas e conversinhas informais, mais realmente difícil de se humanizar.
O segredo foi justamente não tornar o roteiro em um pornô disfarçado e um filminho pra gay ver. O grande sacada foi ter humanizado a história, muito alem das opções sexuais dos personagens estava em jogo o amor, um amor verdadeiro.
O segredo foi ter dado um show com a trilha sonora e com a fotografia, o filme puxa o espectador com unhas e dentes pra dentro da tela.
O segredo foi ter acertado a mão no erotismo, o tipo de filme que se assiste com a avó do lado sem o menor constrangimento. Mesmo porque ela vê coisa muito pior na novela.
O segredo foi ter mostrado acima de tudo o sentimento, ter mostrado que o amor é uma força da natureza.
E o grande segredo foi ter se encaixado direitinho no perfil Oscar new age. Um filme americano, uma história bela, porém triste, uma tragédia no final. Três oscars foram pouco.
Pra quem ainda não viu, os melhores cinemas da cidade ainda o mantém em cartaz.

quarta-feira, março 15, 2006

POLÍTICA – Anacrônico falar em democracia

Por Carine Roos


Depois de uma longa entrevista à revista semanal inglesa "The Economist", como sempre, Lula deixa a sua máxima, diz que a democracia está consolidada no Brasil. Permito-me aqui fazer a minha emissão, nunca vivemos, de fato, numa democracia.
Ainda hoje ecoam as marcas do golpe de 64 e a dita redemocratização, cairia muito bem aquela famosa expressão, foi só para inglês ver, ou melhor, ouvir.
Não é difícil até para um leigo no assunto entender que com um país tão desigual, marcado na alma do povo os vergões que ainda um passado escravocrata traz e uma mídia que anestesia e entorpece os sentidos dos cidadãos é anacrônico falar em democracia.
É anacrônico falar em democracia quando partidos representam instituições consolidadas de poder e não interesse dos cidadãos.
É anacrônico falar em democracia quando ainda coronéis se portam como donatários de terras e exercem ainda o famigerado voto de cabresto, arrebanhando um considerável contingente de pessoas carentes das mais diversas necessidades.
É anacrônico e soa a uma certa hipocrisia vendar os olhos a uma série de necessidades às quais o país sofre como fome, educação, saneamento básico, segurança, moradia.
Estamos às vésperas de eleições e sabemos que é ingenuidade pensar que mudanças substancias ocorrerão, seja um PT ou PSDB no poder.
Não, não, nunca tivemos uma democracia consolidada, ou então essa palavra se esvaziou de valor e de seu sentido original.

terça-feira, março 14, 2006

CIDADE – Na corrida das cores!

Por Peu Lucena


Táxi. Uma coisa que sempre me incomodou em Brasília. Não pelo fato de, na maioria das vezes levar “patadas” quando decepciono os motoristas saindo do sudoeste e o meu destino é a rodoferroviária, nem pelo fato de andarem quase com o dobro da velocidade permitida. Mas sim, pelo simples fato de serem coloridos.
E não é frescura não, é meio inconcebível que uma cidade que foi milimetricamente riscada e calculada, prédios simétricos, ruas sem nome, e sim números, setores meticulosamente separados (temos uma rua só para lustres, outra só pra farmácias, incrível!) tenha uma frota de táxi que circula numa verdadeira suruba de cores.
Em Curitiba são laranja, no Rio são amarelos, São Paulo, Salvador e Aracajú são brancos, mas na cidade mais rica e com a melhor qualidade de vida do Brasil eles são da cor que bem entendem, “a cor que tiver mais barata na concessionária” como me disse um simpático motorista de táxi que respondia as minhas indagações a respeito do assunto.
Ele conta: “teve um tempo que tentamos padronizar os carros, todos brancos. Mas não deu certo. Primeiro por que o nosso sindicato é muito desunido, não lutam por interesses da categoria, e segundo por que não recebemos nenhum tipo de incentivo do governo, nós já tentamos um acordo, para que o governo ajudasse para que pintemos os táxis de branco, e que sejam dados descontos nos carros brancos das concessionárias para os motoristas de táxi, mas nada adianta!”
Se pra pintar carro já ta difícil, imagina pra instalação de postos de gás. A forma de combustível que mais cresce no país ainda não chegou à capital federal!!!

segunda-feira, março 13, 2006

DENÚNCIA - Rofecoxib, MSD. O alucinógeno - O caso VIOXX

Por Carmen Gonçalves


"As amigdalas doem. Tomo comprimidos de Vioxx de 50 mg. Durmo e entro em um mundo estranho.Chiqueiros, samambaias, mesas de escritório, a redação de um telejornal fervendo, gramados verdejantes, seres mitológicos e arcanos. Todos se abraçam em um mesmo ambiente que mergulha num vértice flamejante. Pra variar não entendo nada. Chego boquiaberto e já me mandam buscar uma fita na ilha de edição para que o mestre a coloque no ar. Seus equipamentos...imundos funcionam cobertos de lama, entre outras coisas, restos de comida. Na redação, vejo samambaias emanando chamas azuis e frias. Alguém me manda apaga-las. Tento de todas as maneiras. mas nada parece adiantar. Pedem que eu corra novamente à ilha de edição, sem saber da tempestade que cai lá fora. O tempo parece parar enquanto corro não mais do que dez metros até a porta. Chego completamente ensopado ao outro lado. Torço pra que não me mandem de volta ao mestre com a fita. Um boy a pega da minha mão e desaparece no ar.Com sorte ainda consigo chegar a tempo no switcher pra ajudar na contagem do tempo do programa. Os monitores apresentam imagens impressioantes de homens-porcos, entre outras aberrações discutindo assuntos políticos com o coitado do entrevistado no centro do Roda Viva. Espero que ainda essa noite minhas amígalas parem de doer." (Marcos Vivan)

A retirada do mercado do Vioxx, um anti-inflamatório cujo princípio ativo é o Rofecoxib, fomentou no ano passado um debate bastante pertinente no que tange à segurança dos medicamentos que são disponibilizados todos os anos pelos laboratórios mundiais. A atitude voluntária do laboratório Merck foi devido à preocupações com o aumento do risco de eventos de complicações cardiovasculares nos pacientes.
No meio científico o que mais causou espanto não foi a decisão do laboratório de retirar o medicamento do mercado, mas sim o fato de os riscos trazidos pela manipulação do Vioxx terem demorado tanto tempo para virem à tona. Para os especialistas, o que aconteceu com o Vioxx serve de alerta para uma prática que está se tornando cada vez mais comum na indústria farmacêutica: descartar as considerações de interesse sanitário e público – eficácia, qualidade, segurança e uso racional de medicamentos – ao imperativo maior do interesse econômico: rentabilidade dos investimentos.
O Vioxx alcançou uma posição invejável no mercado graças a uma enorme campanha de marketing. Estava em 80 países e só em 2004 passado faturou cerca de 2,5 bilhões de dólares. No Brasil, onde o Vioxx era o quarto em vendas, a Merck teve receita de mais de trinta milhões de dólares em 2003.

A Merck já havia sido avisada

Em 2002, um laboratório espanhol, o Instituto Catalão de Farmacotecnologia, publicou artigo sobre os riscos que a administração do rofecoxib, o princípio ativo do Vioxx, terem sidos ignorados pela indústria. Em 2004, o British Medical Journal e a revista The Lancet publicaram artigos científicos que relatavam riscos de eventos cardiovasculares graves.
O boletim Uso Racional de Medicamento nº2, publicado pela Opas/OMS e pelo Ministério da Saúde em janeiro de 2004 esclareceu a possibilidade de “associação desses medicamentos a eventos cardiovasculares (infarto do miocárdio, trombose, hipertensão sistólica isolada), edema, hepatotoxicidade e distúrbio visual agudo temporário”. O texto ainda destacava a que havia limitações nos estudos sobre essa classe de antiinflamatórios e que, frente às evidências e dúvidas, o mais recomendado seria que a prescrição desses medicamentos fosse reservada a pacientes de alto risco.

A verdade (a obviedade) é que a sanha dos laboratórios mundiais em vender e manipular drogas já ultrapassou, há muito, a barreira da ética e do bom senso. Medicamentos perigosos à saúde humana (inacreditavelmente absurdo!) são empurrados pelas campanhas publicitárias dos laboratórios goela abaixo dos pacientes. Redes de saúde, hospitais, governos e convênios fecham seus olhos e permitem que esse ato de extremo desrespeito acometa cada dia mais pessoas. Políticas e legislações de contenção dos poderes desses laboratórios nem sempre são eficazes (mesmo em países da Europa ou no USA) e muitas das vezes, o governo deixa-se corromper pela chuva de dinheiro em forma de propina que estes laboratórios proporciona (como no caso mais gritante, a África).

No caso do Vioxx, foi preciso cerca de 7.800 mortes comprovadamente associadas ao uso do medicamento no mundo inteiro, para que a Merck se mexesse e retirasse a droga do mercado, “voluntariamente”.