Horário de Brasília

quinta-feira, novembro 23, 2006

CIDADE VERMELHA - Debaixo da terra, onde pulsa vida

Por Gabriela Rocha

Brasília nunca será cidade alta. Com o plano diretor foi estabelecido que, mesmo com toda a metódica preocupação urbanística, nela sempre esteja presente a visão do quase sempre azul, céu cerrado.

Para driblar esta situação a cidade cresceu ao contrário. O subsolo fervilha. Quase na mesma proporção dos ratos de esgoto, espalha-se pelos corredores e galerias que deveriam ser escuras e sem vida.

Enquanto o trânsito enche de som e luz o Eixão, passagens subterrâneas são preenchidas por passos ligeiros que atravessam com a determinação do olhar vazio, tão comum aos moradores das metrópoles. E as mesmas passagens tornam-se galeria para grafiteiros, que exibem arte nas paredes antes quase claustrofóbicas.
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O Conic, sempre estigmatizado por atividades peculiares, abriga nas entranhas o Dulcina, teatro de onde brota a renovação cênica da cidade e, em algumas noites, festas que misturam do eletro ao samba rock, da patricinha do Lago Sul ao morador da Ceilândia, em uma harmonia que não existe sob luz do sol.
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Em canto escondido do Sudoeste, jazz escapa debaixo de um supermercado cada vez que alguém abre a porta do local. O melhor bar da tradicional música americana só é conhecido por quem, alguma vez, olhou para baixo e desceu as escadas que levam ao Jazz Café.
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Sinuca, rock, fumaça e cerveja são os componentes que marcam a Área 51. Outro lugar que pelo lado de fora é mais uma grade que enfeia a paisagem, mas sob a terra pulsa e preenche de energia às noites.
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Na W3, estúdios musicais ocupam parte das quadras é de onde brotam bandas, que aqui não são de garagem, são de porão, Porão do Rock.

Assim, a cidade plana cresce e espalha raízes no subsolo. Planta semente alternativa. Faz de Brasília diferente pela cultura que nunca enxerga o sol e, mesmo que tão noturna, se mantêm fresca e vibrante.

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