DENÚNCIA - Falcão
Por Carmen Gonçalves
Neste domingo, fomos massacrados com quase duas horas de realidade dura, cruel e miserável, durante o Fantástico, com a exibição do documentário “Falcão, meninos do tráfico”. O rapper MV Bill, que inclusive faz parte da Cufa – Central Única das Favelas, - explorou, de forma inédita, a rotina dos garotos que trabalham para o tráfico de drogas em todo o Brasil, tiram seu sustento dele e muitas vezes fazem do tráfico seu status.
De forma assustadora vimos como meninos de todas as idades lidam com a miserável situação que os cerca, de pobreza e abandono.
Vimos como idolatram seus iniciadores no crime, os “fiéis”.
Vimos como se drogam para se manterem acordados durante a jornada noturna de vigia à favela.
Como se divertem, com as brincadeiras mórbidas de polícia e bandido, com fuzis e AKs-47 em punho e trouxinhas de maconha e cocaína na bolsa.
Como deixam de lado a escola e passam os dias dormindo, pois durante o dia periga tomarem um tiro se circularem nas ruas da favela.
Como trabalham com a morte prematura, como têm consciência da vida sem propósito e como são roubados de tudo que uma criança tem direito, segundo nos diz o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Vimos como, com a frieza de um general de guerra veterano, um garoto de no máximo 10 anos concluiu que se morresse hoje, um outro pior nasceria e tomaria seu lugar ou como um outro, um pouco mais novo, afirmou querer ser bandido quando crescer.
Vimos paralisados, atônitos a isso. Em muito tempo não haverá algo mais chocante do que aquelas horas foram. Ou talvez haja. Encontramo-nos numa situação de crueldade e miséria humana e social tão mais violenta do que muitas das barbáries que a História do homem nos mostra, que não seria surpresa para mim, uma série pior de depoimentos no noticiário de hoje a noite.
O documentário exibido pela Globo me fez pensar, sem a menor demagogia, que essas crianças não puderam escolher viverem nesse meio. Fez-me pensar que poderia ser eu ali naquela falta total de vida e esperança, ou pior, uma das pessoas que eu amo e quero bem. Talvez seja esse o grande mérito desse tipo de reportagem: nos dar aquele soco no estômago e nos fazer perguntar o que falta para um maior envolvimento social? Como ajudar, o que fazer para melhorar de alguma forma a vida dessas pessoas?
O brasileiro é, sem dúvida, um povo solidário. Temos, talvez pela nossa mistura de raças, uma identificação natural de compaixão com o próximo. Às vezes sinto, porém, que essa vida corrida, essa necessidade de viver para trabalhar, para ser melhor (necessidade?), está mudando esse ponto da nossa cultura. Às vezes acho que o preconceito racial e social está predominando. Eu mesma tinha esquecido do tempo em que dava aulas de informática para crianças carentes e como era bom fazer isso, como elas gostavam e como sentiram falta quando parei. Porque parei? Não encontro a resposta, me sinto mal com isso. Falta de tempo? Cansaço? Não sei dizer.
Desculpe-me leitor, fazer desse blog um desabafo neste dia. Espero ter cooperado para uma conscientização, ou pelo menos o início de um processo assim para quem estiver lendo. De alguma forma me faz sentir melhor: a imprensa pode ser sim, um poder incrível de propagação do bem. Podemos ajudar a diminuir o sofrimento dessas pessoas, e outras tantas, a partir do momento que vimos com clareza, tomamos consciência de que ele existe. Assim como ontem.
Neste domingo, fomos massacrados com quase duas horas de realidade dura, cruel e miserável, durante o Fantástico, com a exibição do documentário “Falcão, meninos do tráfico”. O rapper MV Bill, que inclusive faz parte da Cufa – Central Única das Favelas, - explorou, de forma inédita, a rotina dos garotos que trabalham para o tráfico de drogas em todo o Brasil, tiram seu sustento dele e muitas vezes fazem do tráfico seu status.
De forma assustadora vimos como meninos de todas as idades lidam com a miserável situação que os cerca, de pobreza e abandono.
Vimos como idolatram seus iniciadores no crime, os “fiéis”.
Vimos como se drogam para se manterem acordados durante a jornada noturna de vigia à favela.
Como se divertem, com as brincadeiras mórbidas de polícia e bandido, com fuzis e AKs-47 em punho e trouxinhas de maconha e cocaína na bolsa.
Como deixam de lado a escola e passam os dias dormindo, pois durante o dia periga tomarem um tiro se circularem nas ruas da favela.
Como trabalham com a morte prematura, como têm consciência da vida sem propósito e como são roubados de tudo que uma criança tem direito, segundo nos diz o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Vimos como, com a frieza de um general de guerra veterano, um garoto de no máximo 10 anos concluiu que se morresse hoje, um outro pior nasceria e tomaria seu lugar ou como um outro, um pouco mais novo, afirmou querer ser bandido quando crescer.
Vimos paralisados, atônitos a isso. Em muito tempo não haverá algo mais chocante do que aquelas horas foram. Ou talvez haja. Encontramo-nos numa situação de crueldade e miséria humana e social tão mais violenta do que muitas das barbáries que a História do homem nos mostra, que não seria surpresa para mim, uma série pior de depoimentos no noticiário de hoje a noite.
O documentário exibido pela Globo me fez pensar, sem a menor demagogia, que essas crianças não puderam escolher viverem nesse meio. Fez-me pensar que poderia ser eu ali naquela falta total de vida e esperança, ou pior, uma das pessoas que eu amo e quero bem. Talvez seja esse o grande mérito desse tipo de reportagem: nos dar aquele soco no estômago e nos fazer perguntar o que falta para um maior envolvimento social? Como ajudar, o que fazer para melhorar de alguma forma a vida dessas pessoas?
O brasileiro é, sem dúvida, um povo solidário. Temos, talvez pela nossa mistura de raças, uma identificação natural de compaixão com o próximo. Às vezes sinto, porém, que essa vida corrida, essa necessidade de viver para trabalhar, para ser melhor (necessidade?), está mudando esse ponto da nossa cultura. Às vezes acho que o preconceito racial e social está predominando. Eu mesma tinha esquecido do tempo em que dava aulas de informática para crianças carentes e como era bom fazer isso, como elas gostavam e como sentiram falta quando parei. Porque parei? Não encontro a resposta, me sinto mal com isso. Falta de tempo? Cansaço? Não sei dizer.
Desculpe-me leitor, fazer desse blog um desabafo neste dia. Espero ter cooperado para uma conscientização, ou pelo menos o início de um processo assim para quem estiver lendo. De alguma forma me faz sentir melhor: a imprensa pode ser sim, um poder incrível de propagação do bem. Podemos ajudar a diminuir o sofrimento dessas pessoas, e outras tantas, a partir do momento que vimos com clareza, tomamos consciência de que ele existe. Assim como ontem.
3 Comments:
sinto que a grande chave da questao e parar com essa de transferir culpa, parar com essa de esperar solucoes heroicas e politicos fracassados e incopetentes...
sejamos nos nossos proprios governantes... ou assumimos de vez a nossa passividade e apenas assistimos de baixo pra cima...
By Anônimo, at segunda-feira, 20 março, 2006
Por estar isolada do mundo numa imensidão gigantesca de nosso País (Amazônia), não pude ver o noticiário citado neste artigo, mas posso imaginar pelos olhos de uma incrível jornalista o tão triste e cruel realidade de nosso País. Os crimes são muito bárbaros nos grandes centros, mas os olhos de nosso telejornalismo não mostra ao nosso povo a cruel realidade de um povo isolado do mundo...cercado por grandes madereiros, garimpeiros e extratores de nossas riquezas, que fazem de nossa linda Floresta um lugar sem lei...onde se mata por alguns metros cúbicos de madeira, onde se prostitui por menos de R$5,00, onde não há lei...só abandono...não há luz... mas há muita injustiça...Por isso peço a jornalista deste artigo, pela qual me admirei pela sua imensa capacidade crítica, que retrate para nosso povo a realidade que não é tratada nos grandes documentários que são feito de nossas Selvas...A Amazônia é uma grande riqueza que está se esgotando ...de cima...só se vê clarões...de baixo...sê vê uma dura realidade...
Abraços...
ML Souza
By Anônimo, at quarta-feira, 22 março, 2006
Poxa, obrigada pela visita e que bom q gostou do site!
A Amazônia é uma preocupação corrente e sempre alvo de conversas e debates entre eu e meus colegas. Prometo, para breve, uma denúncia.
um abraço
By Anônimo, at quinta-feira, 23 março, 2006
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