Horário de Brasília

sábado, março 18, 2006

CRÔNICA - Será?!

Por Peu Lucena


Essa semana, mais uma vez, fomos alvo de um espetáculo esplêndido que aconteceu nas favelas do Rio e que teve o exército como estrela principal. Sem sombra de dúvidas dava um filme. Um filmezinho meio tosco, mais dava. O roteiro (que beleza de roteiro!) impressiona pela deslavadês dos fatos e pela cara de pau dos protagonistas.
Bem, vamos às cenas. Como todo bom filme, a primeira cena é bem tranqüila, mostrando algo do cotidiano do local onde se desenrolarão os fatos. No nosso caso um roubo à um depósito de armas do exército no Rio de Janeiro, coisinha básica. Em seguida passamos para um take onde a turma do colarinho branco se reúne e, com suor escorrendo pela testa, discutem o que fazer. “Não podemos recorrer às resoluções de praxe (não fazer nada), temos que impressionar, estamos em ano de eleição!” E esse é o inicio de uma jogada política e publicitária incrivelmente patética.
Que tipo de seres pluricelulares e desprovidos de raciocínio pensam que somos? A Globo tratava o assunto como uma ingênua menina virgem que apenas “reporta” os fatos. Será que é tão surreal assim pensar que colocar o exército nas favelas foi um joguete?! Primeiro para encenar para o Brasil todo ver e com a ajuda da ilustríssima Globo concluir: “Nossa! O problema da violência no Rio não é tão sério! Os índices de violência caíram pela metade. O nosso ilustríssimo Estado ainda tem o poder, conseguiram recuperar as armas, viva! Viva!”
Será que é muito difícil associar tudo isso com as eleições?! Alguém subjetivamente querendo dizer: “Ta vendo, quando eu quero, eu faço!”. Será que não ficou explícito que recuperar dez míseros fuzis (dos milhares fuzis do exército em poder dos traficantes) foi uma simples fachada?! Ninguém percebeu que os fuzis apareceram, mas não se sabe direito de onde, nem como, nem quem os roubou e por onde estiveram. O que? Alguém falou em acordo com os traficantes?! Será?!
Ninguém está meio confuso com o fato de que, se com os soldados nas favelas o índice de violência caiu pela metade, por que tirá-los de lá?! Ha, claro, no Haiti eles são mais importantes né? Ou quem sabe nos quartéis lavando farda.
Ninguém se incomoda com o fato da nossa menininha virgem não mostrar os protestos no Rio para que o exército continue na cidade. Mas será que é mesmo interessante acabar com o crime organizado? Espero sinceramente que o narcotráfico na cidade maravilhosa não tenha se tornado um mal necessário.