Horário de Brasília

quinta-feira, março 16, 2006

CULTURA – O segredo

Por Peu Lucena



Acabei de assistir (mais uma vez), agora com o peso do Oscar e com um olhar de crítico de cinema (ó pretensão!).
Realmente o filme surpreende, e o faz justamente por passar longe de toda aquela desnecessária pirotecnia hollywoodiana. Almodóvar tava aí pra quem quisesse ver e aprender como se faz filme de verdade, mas a maquininha californiana de fazer dinheiro sempre ignorou o sentimento e a pureza humana, sempre vangloriou superproduções onde o mais importante eram os efeitos especiais e aquela tragédia gostosa de se ver no final (vide Titanic, Gladiador, Senhor dos Anéis). O segredo de brokeback mountain surpreende por que?
O segredo foi ter acertado a mão no tema, um tema difícil de se tratar, fácil de falar e filosofar em novelas e conversinhas informais, mais realmente difícil de se humanizar.
O segredo foi justamente não tornar o roteiro em um pornô disfarçado e um filminho pra gay ver. O grande sacada foi ter humanizado a história, muito alem das opções sexuais dos personagens estava em jogo o amor, um amor verdadeiro.
O segredo foi ter dado um show com a trilha sonora e com a fotografia, o filme puxa o espectador com unhas e dentes pra dentro da tela.
O segredo foi ter acertado a mão no erotismo, o tipo de filme que se assiste com a avó do lado sem o menor constrangimento. Mesmo porque ela vê coisa muito pior na novela.
O segredo foi ter mostrado acima de tudo o sentimento, ter mostrado que o amor é uma força da natureza.
E o grande segredo foi ter se encaixado direitinho no perfil Oscar new age. Um filme americano, uma história bela, porém triste, uma tragédia no final. Três oscars foram pouco.
Pra quem ainda não viu, os melhores cinemas da cidade ainda o mantém em cartaz.