CIDADE VERMELHA - Brasiliense, forte como o cerrado
Por Patrícia Leite
Noite dessas abriu-se uma enorme discussão sobre o que é ser brasiliense. Os mais apocalípticos diziam que ser brasiliense era conviver entre os abutres do poder sem virar carniça. Era uma espécie de engajamento ecológico. Conviver entre cobras, ratos e outros peçonhentos e conter os desejos homicidas que estes “animaizinhos de pequeno porte” — ou seria de grande porte? Enfim, — incitam a libertar. Integrados —bem mais otimistas — diziam que o grande barato de estar perto do coração político nacional era ser confundido com “gente que tem grana” — poder.
Em janeiro, servidores públicos, estudantes, deputados, senadores etc. saem de férias, geralmente rumo ao litoral — candangos, com os filhos e netos voltam à terra natal para visitar parentes — para quem não sabe, candangos são os primeiros migrantes que vieram para Brasília na década de 60 e que erroneamente são chamados de brasilienses. Estes primeiros trabalhadores brasiliensemente chamados de piotários — não construíram grandes patrimônios —, tornam-se celebridades ao chegar às origens. Pessoas de outras localidades acham que candangos são marajás, vizinhos do presidente do Congresso Nacional e que tomam, diariamente, sorvete na mesma sorveteria que a primeira-dama, Marisa Letícia.
Apocalípticos não perdiam uma deixa e atacavam: Brasília não tem mar e todo início de ano fica mais deserta que o Saara, uma paz de latejar. E a defesa contra-atacava: na verdade, não ter praia é muito bom, imagine a cidade lotada de turistas, preços sobem, estresse. É melhor não ter praia, pegar o camelo — bicicleta —, juntar amigos — brasilienses andam em tribos —, visitar cachoeiras e trilhas, acampar, fazer fogueira, e no primeiro sábado de lua cheia descer para esplanada e tocar violão.
Apocalípticos, em tom de escárnio, diziam: detestamos a frieza cinza de tanto concreto. Integrados respondiam: em que lugar do mundo você vai tropeçar com a colorida arte — mais de 300 obras — de Athos Bulcão? Um museu a céu aberto. E, por falar em céu... Em que outro lugar há um por do sol tão lindo e cheio de matizes? Isto sem falar na diversidade cultural das pessoas, deste povo tão multifacetado. Apocalípticos se rendiam e diziam: não há lugar tão miscigenado, de povo tão rico. O brasiliense é valente — tem a força do cerrado.
Horas de discussão. Conversas circulares não chegavam a lugar comum. O dia amanheceu. Integrados disseram: Que tal um café no aeroporto? Afinal, ser brasiliense é comer bem, é ter retórica, é terminar uma rodada de contenda acompanhada de chocolate quente, pão de queijo, sanduíche e ansioso para começar a próxima discussão. Apocalípticos em uníssono: só se for agora.
Noite dessas abriu-se uma enorme discussão sobre o que é ser brasiliense. Os mais apocalípticos diziam que ser brasiliense era conviver entre os abutres do poder sem virar carniça. Era uma espécie de engajamento ecológico. Conviver entre cobras, ratos e outros peçonhentos e conter os desejos homicidas que estes “animaizinhos de pequeno porte” — ou seria de grande porte? Enfim, — incitam a libertar. Integrados —bem mais otimistas — diziam que o grande barato de estar perto do coração político nacional era ser confundido com “gente que tem grana” — poder.
Em janeiro, servidores públicos, estudantes, deputados, senadores etc. saem de férias, geralmente rumo ao litoral — candangos, com os filhos e netos voltam à terra natal para visitar parentes — para quem não sabe, candangos são os primeiros migrantes que vieram para Brasília na década de 60 e que erroneamente são chamados de brasilienses. Estes primeiros trabalhadores brasiliensemente chamados de piotários — não construíram grandes patrimônios —, tornam-se celebridades ao chegar às origens. Pessoas de outras localidades acham que candangos são marajás, vizinhos do presidente do Congresso Nacional e que tomam, diariamente, sorvete na mesma sorveteria que a primeira-dama, Marisa Letícia.
Apocalípticos não perdiam uma deixa e atacavam: Brasília não tem mar e todo início de ano fica mais deserta que o Saara, uma paz de latejar. E a defesa contra-atacava: na verdade, não ter praia é muito bom, imagine a cidade lotada de turistas, preços sobem, estresse. É melhor não ter praia, pegar o camelo — bicicleta —, juntar amigos — brasilienses andam em tribos —, visitar cachoeiras e trilhas, acampar, fazer fogueira, e no primeiro sábado de lua cheia descer para esplanada e tocar violão.
Apocalípticos, em tom de escárnio, diziam: detestamos a frieza cinza de tanto concreto. Integrados respondiam: em que lugar do mundo você vai tropeçar com a colorida arte — mais de 300 obras — de Athos Bulcão? Um museu a céu aberto. E, por falar em céu... Em que outro lugar há um por do sol tão lindo e cheio de matizes? Isto sem falar na diversidade cultural das pessoas, deste povo tão multifacetado. Apocalípticos se rendiam e diziam: não há lugar tão miscigenado, de povo tão rico. O brasiliense é valente — tem a força do cerrado.
Horas de discussão. Conversas circulares não chegavam a lugar comum. O dia amanheceu. Integrados disseram: Que tal um café no aeroporto? Afinal, ser brasiliense é comer bem, é ter retórica, é terminar uma rodada de contenda acompanhada de chocolate quente, pão de queijo, sanduíche e ansioso para começar a próxima discussão. Apocalípticos em uníssono: só se for agora.
3 Comments:
Bom texto! Aspectos bem peculiares mesmo!
By Anônimo, at terça-feira, 28 novembro, 2006
Você escreve bem. Uma exceção aqui.
By Anônimo, at sexta-feira, 01 dezembro, 2006
Esses anônimos talvez sejam a grande "pérola" do blogg. rsrsrsrs Falam tanta besteira, só para provocar. E no fim das contas vocês ainda terão que agradecê-los, por contribuirem ainda mais com o crescimento de cada um dos jornalistas que se dedicam a este canal.
Me senti sentada à mesa de um café desses que há em Brasília, como se fizesse parte da história.
Mas, será que você poderia me esclarecer uma dúvida?
Bjos saudosos!!!
By Anônimo, at terça-feira, 12 dezembro, 2006
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