Horário de Brasília

sexta-feira, julho 21, 2006

OPINIÃO - BRASILEIROS: Pacíficos e Burros!

Por Carmen Gonçalves

Nas eleições de 1998, Luiz Estevão foi eleito senador pelo PMDB do Distrito Federal. Em 2001, após uma série de denúncias que o envolviam nas mais cabeludas falcatruas com o dinheiro público, o Congresso Nacional votou a sua cassação. No painel eletrônico da Casa o senador foi derrotado, saindo assim, da cena política por pelo menos 8 anos. Foi então que o então senador José Roberto Arruda (candidato hoje ao Buriti, mas que coisa hein?) do PFL entrou em ação. Arruda imprimiu a lista dos votos, secretos, diga-se de passagem, de todos os parlamentares indicando sim ou não à cassação. Esta lista foi entregue em mãos ao também senador Antônio Carlos Magalhães, que na época era o presidente do Senado.

Vamos começar da falha mais gritante: voto de parlamentar no Congresso não tem que ser secreto. Ora, pois então eu não tenho o direito de saber o que anda fazendo o meu representante? Quem ele anda beneficiando e no que ele anda votando? O escrutínio secreto favorece as manobras políticas e o joguinho de favores, somente uma forte, abrangente e consciente pressão social seria capaz de acabar com esta regra colonial e bizarra da nossa estrutura política.

Voltando ao Arruda. Ao ter acesso à lista, violando assim a segurança do escrutínio, o então senador pôs em cheque a sua ética e seu bom-senso. Seguindo orientações dos coronéis de seu partido, Arruda provou naquela ocasião que nunca mais deveria ser merecedor da confiança de brasileiro algum. O que ACM ia fazer com a lista, o que ele ia ganhar sabendo quem votou contra ou a favor são outros quinhentos. No fim, a imprensa caiu matando e tanto Arruda quanto ACM renunciaram para não correrem o risco de serem cassados.
Agora a parte cínica e aviltante da coisa: nas eleições de 2002 ambos candidataram-se a deputado federal e obtiveram esmagadora vitória nas urnas. ACM, pela Bahia, o seu curral eleitoral, e Arruda, pelo DF. E mais, o pefelista da capital arrebanhou mais de 250.000 votos, o que o colocou no posto de um dos mais votados, proporcionalmente, no país inteiro. E sem fazer esforço, Arruda quase não fez campanha.

Em outubro próximo, Arruda é candidato, nas urnas, ao Governo do Distrito Federal pelo PFL e, numa manobra política de mestre, conseguiu como seu vice Paulo Octávio, também do PFL – e que inicialmente, também era candidato a governador. Com uma chapa pura, Arruda, o cacique candango pefelista, conseguiu o apoio de fortes correntes políticas locais, como por exemplo, a do ex-governador Joaquim Roriz – que diz apoiar a candidata Maria de Lourdes Abadia, mas todo mundo sabe que o velho não apostaria em galinha morta. Arruda é favoritíssimo ao Buriti – sem segundo turno - e com um sorriso absolutamente estudado no seu rosto mostra que tem plena consciência disso.

É lamentável, extremamente lamentável essa passividade do brasileiro. Um traço cultural, algo que não vai mudar com facilidade, engloba questões culturais, históricas e ideológicas, um comportamento arraigado demais para ser dissipado em duas ou três gerações. Pior, o tempo vem mostrando que evolui com o passar dos acontecimentos. Aquilo que faz este povo avesso a guerras, intervenções, totalitarismos e golpes é o mesmo que o faz conformar-se, inibir-se e calar-se em momentos como este atual, de completo caos social. A tal “memória fraca”, que uns fazem questão de dizer que o brasileiro tem, é o exato retrato desta situação. Pouca memória, ou seja, extrema e maléfica tolerância. Principalmente em época de eleições, uma insuportável benevolência e uma simplicidade dispensável aliam-se à tolerância excessiva, irritante, facilitando de maneira inacreditável o caminho inescrupuloso de certas ratazanas até a mesa farta do poder. E em 2007, recomeça o banquete!

3 Comments:

  • Essa história de memória curta não cola mais... o que acontece aqui é que até a população já aprendeu a fazer vistas grossas aos problemas e ao cinismo dos políticos dessa terra.

    By Anonymous Anônimo, at sexta-feira, 21 julho, 2006  

  • Matéria muito boa ,porém expõe muito o seu ponto de vista, muito opnioso.
    Cuidado com os gerundios!

    Texto muito bom!Parabéns

    Abs

    By Anonymous Anônimo, at domingo, 23 julho, 2006  

  • Dizem que todo povo tem o governante que merece. Espero que bra´silia não mereça Arruda e Paulo Óctávio. Nesse texto vc ainda poderia ter citado Pedro PAssos que estava foragido (com aplícia na cola dele)durante a eleição de 2002. Foi eleito e o juiz que havia emitido a ordem de prisão declarou ao fim da eleição: "Se o povo quer quem sou eu para impedir?"

    By Blogger Martins, at terça-feira, 01 agosto, 2006  

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