Horário de Brasília

sexta-feira, junho 30, 2006

CRÔNICA – Pequenas coisas...

por Peu Lucena

Dia desses me peguei num flagrante quase que imperdoável para minha ideologia. Estava eu sentado a mais de duas horas frente a um monitor de plasma, pelo qual escorriam linhas e mais linhas de siglas e nomenclaturas que há um mês atrás seriam totalmente desconexas pra mim. Degustava delicada e carinhosamente a pauta de atividades do Senado Federal. Todos aqueles PLSs, PDSs, PLs, MPs eram incrivelmente familiares e construtivos em minha mente doentia.

E não terminava por aí a minha alucinação conceitual. Preocupava-me ferozmente a internacionalização da Amazônia, me tiravam o sono os comentários futebolísticos do Galvão e as falas geniais dos pastores nas rádios. Frases não ditas, gestos quase feitos, ações não reais, opções não claras. Tudo isso, por incrível que pareça arrancou lágrimas dos meus olhos. E eu pergunto: por que?

Por que somos tão vulneráveis à complexidade da vida? Por que mergulhamos de cabeça nessa festa sem escrúpulos e totalmente surreal nomeada como um palavrão de Sociedade Contemporânea Complexa? Alguém pode me dizer pra que esse COMPLEXA no final?

Fui sugado para uma atmosfera COMPLEXA que me mostrou o quão louca e alucinada está a realidade das coisas. Cheguei a ouvir mais a voz da Heloísa Helena, em seus pronunciamentos do Senado, que a voz da minha mãe. Conheço muito bem toda a vida do Caco Barcelos, mas não faço idéia do nome de meu vizinho. Sou considerado conversador, falador, o despojado, mas ao entrar em um elevador não consigo escapar do bom e velho roteiro: 1- olhar para o chão. 2- olhar para o teto. 3-olhar para o espelho. 4- sair dizendo um frio e seco “brigado”. Sou mais um cabrito nas grandes “baias” de alimentação dos shoppings.

Rendi-me à insanidade COMPLEXA da sociedade! Mas quero refúgio de toda essa loucura que, ao contrário do que eu pense, se concentra mais especificamente entre o meu pescoço e os meus cabelos... Coloco a mochila nas costas e volto para onde tudo começou. Pelo menos ainda olho nos olhos das pessoas... Apesar de tudo!