TELEVISÃO – Enquanto bola rola, a vida pára.

Pelo amor de Deus! Dá pra mudar de assunto?!
Por Peu Lucena

O Brasil ainda não se acostumou a ver a copa de quatro em quatro anos. Não foi atingido ainda aquele grau racional de se gostar das coisas. Porque uma coisa é você querer muito algo, realmente lutar e torcer para conseguir o que quer. Outra, completamente diferente, é essa insanidade patética na qual mergulham 180 milhões de pessoas durante cerca de um mês.

Não importa se um grande advogado ou um nobre faxineiro, todos são resumidos ao título de poodles, isso mesmo, todos agem como aqueles cachorrinhos frenéticos que já viram a bolinha colorida, mas enquanto a madame não joga-la, ficarão ali, babando, lacrimejando, mal respirando, com aquele olhar de expectativa, como se o mundo estivesse parado e tudo girasse em torno daquela bolinha... (sentiu a semelhança?!)

Tudo bem, aceitemos aquela máxima infame que diz: “em um país tão sofrido, é o futebol que nos alegra!”. Ok, que seja a feita a vossa vontade, mas até quando é saudável ficarmos babando por uma bola com o mundo se acabando nas nossas costas? O que fica magicamente no ar é que o mensalão nunca existiu, que a pizza nunca assou, que a Suzane nunca matou seus pais, que o Bush nunca invadiu o Iraque.

E choca ainda mais o que a mídia faz com os poucos neurônios deixados por ela em nossas cabeças. Doze marmanjos em campo valem muito, mas muito mais do que seis mil mortos na Indonésia. Do programa de culinária ao telejornal mais visto, não há, não deve e nem se pode reportar outra coisa. Não há como, é matematicamente impossível que a ilustríssima Globo cubra qualquer outro caso ou evento mediante o fato de que, tirando nosso robótico Bonner, todo o quadro de focas da casa está na Alemanha. A demanda lá chega a ser de 5 ou 6 repórteres para cada jogador. Fantástico!

Estamos entrando em um túnel verde e amarelo, mas que não passa de um buraco negro, um local onde ficaremos por um mês, onde não haverá outra conversa, outro pensamento, outra ideologia, outra pátria que não seja aquela que fale ao futebol. De quatro em quatro anos um certo juiz, chamado copa, passa por aqui para que seja assinado um belo Atestado de Alienação, que garante o patriotismo aflorado só em casos de brincadeirinhas futebolísticas, e que daqui a quatro anos o tal juiz vai voltar, com outro Atestado na mão, e uma placa enorme escrito: PÁRE!

E até esse blog, que sempre se comprometeu a tratar de assuntos sérios, hoje parou. Só pra falar de copa!