E-DITORIAL
Por Peu Lucena
João, 35 anos, formado em direito, funcionário público desde os 22. João é de classe média alta, já possui casa própria e um apartamento que aluga e complementa a renda familiar. Há! João é casado há 10 anos, casado não, juntado, é, mora junto, papéis burocráticos que afirmem alguma coisa não fazem muito o gênero de João. Ele não têm filhos mas sonha em tê-los. Leva uma vida tranqüila, normal. Trabalho estressante de segunda à sexta, no sábado recebe os amigos em casa e no domingo pega aquele cinema de fim de tarde, programa de casal.
João acordou ontem ao lado daquele ser que tanto ama, seu braço direito, companhia pra todas as horas, alma gêmea, cara-metade... como queiram chamar. João levanta, acorda seu amor com um leve beijo, veste sua roupa, escova os dentes e sai comendo um sanduíche preparado às pressas. Pega o ônibus, repara a cidade, dia nublado, pessoas isoladas no banco, motoristas voando baixo e o cobrador sempre com aquela impaciência, já conhecida, quando João paga a passagem com uma nota de 10.
João chega ao trabalho e recebe, de cara, um elogio da chefa pelo último relatório. O dia está ganho! Aquela megera sem coração odiada com todas as forças pela repartição acabou de enaltecer o profissionalismo de João, bingo! Os colegas o chamam para descerem até o pátio pois dizem estar acontecendo um evento interessante e inusitado.
João desce, sempre curioso. Repara no local uma fila que desemboca em um ônibus verde, com banners e anúncios de ajuda humanitária. João se empolga, vê todos os colegas entrarem na fila e se posiciona igualmente. A fila anda lentamente mas ninguém reclama, a causa é justa, aquele tempo na fila com certeza será gratificado com um gesto belo de solidariedade. João chega à porta do ônibus. Medem sua altura, seu peso, verificam sua pressão. Ok, está tudo em ordem com a forma física do nosso herói. Uma simpática moça fura o dedo de João com um pequeno aparelho e colhe uma pequena mostra de sangue. Alguns minutos depois, um novo Ok é dado. Ótimo sangue, raríssimo, ótimas percentagem de plaquetas e glóbulos brancos. A mesma moça simpática dá a boa notícia a João e o chama para um simples bate-papo antes do tão aguardado momento.
Minutos depois, João sai frustrado pela porta do veículo adaptado para o procedimento. Dá uma última olhada para os amigos que já estão sentados naquelas enormes poltronas, com o braço direito esticado, voltado para cima, punho fechado e em movimento de pressão e relaxamento. João não pôde fazê-lo. Do braço deles salta uma pequena agulha ligada a um duto de plástico que guia o líquido vermelho em direção a uma bolsa de 500ml.
João, ainda chateado, pensa em ligar para a única pessoa que consegue consola-lo, que talvez pudesse explicar por qual motivo haviam negado seu sangue: seu amor. João pega o celular e, sem maiores hesitações, aperta o send. Antônio está em casa ainda meio sonolento, só entraria no trabalho ao meio dia, decidira dormir um pouco mais e só percebera agora que a cama estava vazia. O telefone toca. Antônio atende.
João acordou ontem ao lado daquele ser que tanto ama, seu braço direito, companhia pra todas as horas, alma gêmea, cara-metade... como queiram chamar. João levanta, acorda seu amor com um leve beijo, veste sua roupa, escova os dentes e sai comendo um sanduíche preparado às pressas. Pega o ônibus, repara a cidade, dia nublado, pessoas isoladas no banco, motoristas voando baixo e o cobrador sempre com aquela impaciência, já conhecida, quando João paga a passagem com uma nota de 10.
João chega ao trabalho e recebe, de cara, um elogio da chefa pelo último relatório. O dia está ganho! Aquela megera sem coração odiada com todas as forças pela repartição acabou de enaltecer o profissionalismo de João, bingo! Os colegas o chamam para descerem até o pátio pois dizem estar acontecendo um evento interessante e inusitado.
João desce, sempre curioso. Repara no local uma fila que desemboca em um ônibus verde, com banners e anúncios de ajuda humanitária. João se empolga, vê todos os colegas entrarem na fila e se posiciona igualmente. A fila anda lentamente mas ninguém reclama, a causa é justa, aquele tempo na fila com certeza será gratificado com um gesto belo de solidariedade. João chega à porta do ônibus. Medem sua altura, seu peso, verificam sua pressão. Ok, está tudo em ordem com a forma física do nosso herói. Uma simpática moça fura o dedo de João com um pequeno aparelho e colhe uma pequena mostra de sangue. Alguns minutos depois, um novo Ok é dado. Ótimo sangue, raríssimo, ótimas percentagem de plaquetas e glóbulos brancos. A mesma moça simpática dá a boa notícia a João e o chama para um simples bate-papo antes do tão aguardado momento.
Minutos depois, João sai frustrado pela porta do veículo adaptado para o procedimento. Dá uma última olhada para os amigos que já estão sentados naquelas enormes poltronas, com o braço direito esticado, voltado para cima, punho fechado e em movimento de pressão e relaxamento. João não pôde fazê-lo. Do braço deles salta uma pequena agulha ligada a um duto de plástico que guia o líquido vermelho em direção a uma bolsa de 500ml.
João, ainda chateado, pensa em ligar para a única pessoa que consegue consola-lo, que talvez pudesse explicar por qual motivo haviam negado seu sangue: seu amor. João pega o celular e, sem maiores hesitações, aperta o send. Antônio está em casa ainda meio sonolento, só entraria no trabalho ao meio dia, decidira dormir um pouco mais e só percebera agora que a cama estava vazia. O telefone toca. Antônio atende.
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Tá no sangue!
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Semana passada o HB noticiou a proibição de doações de sangue por parte dos que se declaram homo ou bissexuais. Não vim aqui cair no discurso pronto e afirmar que “isso é um absurdo”, que “preconceito não cola mais”, que “homossexual também é gente”, etc, etc, etc. Vim aqui pelo único e singular desejo de apontar o lado medíocre e fascista de generalizações irracionais como esta.
Na idade média, mulheres solteiras que faziam remédios caseiros e alcançavam a cura, sem que tal cura envolvesse, necessariamente, a fé na Igreja e na figura de um padre ou santo, eram taxadas de bruxas e queimadas aos montes nas fogueiras da inquisição. Nos Estados Unidos dos anos 60/70 negros cantores eram considerados doentes ou arruaceiros, andavam na parte de trás dos ônibus, eram perseguidos, espancados e mortos. Na Brasília dos anos 2000, domésticas residentes em bairros como o Varjão, eram rotuladas como nordestinas infelizes, esposas de traficante, e eram obrigadas a tomar banho de álcool antes de começarem seus afazeres nos burgueses apartamentos da Asa Sul.
Hoje, a taxação vem de forma cínica e governamentalmente educada. O cidadão senta em uma cadeira é educadamente informado que não pode ser doador por ser bi ou homossexual, ou ainda por ter mantido relações sexuais com mais de três parceiras no último ano. Não cola mais aquela máxima que diz que “não podemos julgar”. É claro que devemos julgar, mas faze-lo com quem realmente deve ser julgado. Nesse caso, o Estado, essa máquina hipócrita e ignorante que não respeita o cidadão de bem, nem segue outra velha máxima que profere sobre “aprender com os próprios erros”.
Na idade média, mulheres solteiras que faziam remédios caseiros e alcançavam a cura, sem que tal cura envolvesse, necessariamente, a fé na Igreja e na figura de um padre ou santo, eram taxadas de bruxas e queimadas aos montes nas fogueiras da inquisição. Nos Estados Unidos dos anos 60/70 negros cantores eram considerados doentes ou arruaceiros, andavam na parte de trás dos ônibus, eram perseguidos, espancados e mortos. Na Brasília dos anos 2000, domésticas residentes em bairros como o Varjão, eram rotuladas como nordestinas infelizes, esposas de traficante, e eram obrigadas a tomar banho de álcool antes de começarem seus afazeres nos burgueses apartamentos da Asa Sul.
Hoje, a taxação vem de forma cínica e governamentalmente educada. O cidadão senta em uma cadeira é educadamente informado que não pode ser doador por ser bi ou homossexual, ou ainda por ter mantido relações sexuais com mais de três parceiras no último ano. Não cola mais aquela máxima que diz que “não podemos julgar”. É claro que devemos julgar, mas faze-lo com quem realmente deve ser julgado. Nesse caso, o Estado, essa máquina hipócrita e ignorante que não respeita o cidadão de bem, nem segue outra velha máxima que profere sobre “aprender com os próprios erros”.
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A sinceridade acabou por humilhar e corromper o orgulho de um cidadão. Antes João tivesse mentido para a moça simpática. Teria doado, salvado uma vida, driblado uma lei e se sentido humano.
24 Comments:
"Há! João é casado há 10 anos, casado não, juntado, é, mora junto, papéis burocráticos que afirmem alguma coisa não fazem muito o gênero de João."
O QUE HÁ?
By Anônimo, at domingo, 08 outubro, 2006
"João levanta, acorda seu amor com um leve beijo, veste sua roupa, escova os dentes e sai comendo um sanduíche preparado às pressas. Pega o ônibus, repara a cidade, dia nublado, pessoas isoladas no banco, motoristas voando baixo e o cobrador sempre com aquela impaciência, já conhecida, quando João paga a passagem com uma nota de 10."
NÃO SEI. TÁ FRACO.
By Anônimo, at domingo, 08 outubro, 2006
UM DESAFORO CHATO DE LER-SE.
By Anônimo, at domingo, 08 outubro, 2006
O que essa historia tem de legal? Se vc fosse direto ao assunto quem sabe teria ficado legal. Porque esse texto alem de longo e chato.. enrolacao total :"João levanta, acorda seu amor com um leve beijo, veste sua roupa...."nooosa o que isso vai acrescentar a sociedade?
By Anônimo, at domingo, 08 outubro, 2006
Anônimo,
edentifique-se, me chame para uma conversa, traga bons argumentos. Eu estarei sempre aberto ao debate, mas isso exige de vc uma personalidade e um leque de bons argumentos críticos.
Essa sua metodologia de crítica não abre espaço a um diálogo intelectualizado.
By Anônimo, at domingo, 08 outubro, 2006
não defendendo o texto completamente.Mas será q esses cometários de cima entenderam o motivo da crônica?
By Anônimo, at segunda-feira, 09 outubro, 2006
Continuando com a crítica da vírgula do post da Priscila para que possam ler, a culpa é 33% de dela, 33% da Gabriela e 33% do Peu: vem cá, como três cabeças podem deixar tanto erro de pontuação passar?? Tão de má vontade né, não é possível!
By Anônimo, at segunda-feira, 09 outubro, 2006
33% dela*
By Anônimo, at segunda-feira, 09 outubro, 2006
A porcentagem de gays infectados por doenças transmissíveis pela transfusão é muito maior. Só isso ja justifica
By Anônimo, at segunda-feira, 09 outubro, 2006
O textículo introdutório foi desnecessário. Quanto a demonstração vulgar de demagogia situada abaixo do mesmo, só tenho uma consideração a fazer (que nada mais é do que uma reinteração do comentário do kozel):
http://www.gaparp.org.br/noticias/index.php?id=14556
Não brigue com números.
Instituições se baseiam neles para tomar decisões, bem vindo ao mundo.
By 'raphael, at segunda-feira, 09 outubro, 2006
Instituições também se baseiam na sua lógica mesquinha e desumana, caro Raphael. Em qual a realidade se baseia o senhor? Uma realidade de videozinhos do You Tube e fotos de comédia pastelão e anti-reflexivas não te mostram tão realista. “Bem-vindo ao mundo” você, nobre leitor!
Gays tem a mesma probabilidade portarem o HIV que a sua nobre pessoa.
By Anônimo, at segunda-feira, 09 outubro, 2006
Acho que as pessoa não entenderam muito bem o que o meu amigo Peu quis passar... Claro, só pensam em criticar o texto antes de ler. Ele quis mostrar a forma desumanizada como tratam os homessexuais. E como ele mesmo disse, a probabilidade destes adquirirem o HIV é a mesma que de qualquer um, mas infelizmente se tem uma visão preconceituosa e muitas vezes deturpada sobre eles. Ao contar o cotidiano de João, ele quis mostrar a todos, que era uma pessoa normal, como qualquer um, que talvez não tivesse tatuagens, hepatite ou outra coisa que o impedisse, a não ser o fato da opção sexual.
E números...? Se os vê como números, os vejo como "Seres Humanos". Chega de homofobia neste país.
Parabéns amigo pela iniciativa!
By Anônimo, at terça-feira, 10 outubro, 2006
Vai brigar com número? Imprime ele, põe a folha na parede e inicie uma discussão.
"Instituições também se baseiam na sua lógica mesquinha e desumana, caro Raphael."
Então o mundo, por se basear em números é mesquinho de desumano? Me poupe de clichês por favor.
O que os demagogos de plantão afirmam portanto é que a pesquisa é preconceituosa e homófoba? Se vocês querem ver apenas o que lhes apetece, o que eu posso fazer...
Antes que atestem ignorância:Não sou homófobo, pelo contrário, tenho amigos gays que trato com tanto respeito quanto os outros. Não sejam limitados a ponto de julgar.
Abraços.
By 'raphael, at terça-feira, 10 outubro, 2006
Muito fofa sua declaração de que "o ser humano sobrepuja números", mas não é bem assim. A Matemática é de aplicação universal, o Homo sapiens sapiens é um acidente, produto do caso e irrelevante. Guarde seu amor para quem realmente merece. Os gays infectam mais. A história do João é dispensável. "Desumanizada"
By Anônimo, at terça-feira, 10 outubro, 2006
Raphael, vc é muito imbecil! muito pretencioso! muito crente q é o tal! muito atrasado, subdesenvolvido! muito preconceituoso!!! e mais, filho da mãe!!!! pessoal, vcs já foram lá no blog desse descerebrado? é ridículo!!! tem fotos bizarras, sugere pedofilia com umas meninas com cara de piranhas, zeeeeeeero de conteúdo!!!!! seu idiota, suas opiniões beiram o lixo!!!!!
By Anônimo, at terça-feira, 10 outubro, 2006
este blog está todo mãe joana. primeiro aquele tucano imbecil dispara argumentos podres contra o Lula e fica discutindo com uma visita. Depois o povo-rola dese treco so briga entre si. e so usam palavras feias, nao sabem falar coisas que nao rodeiem o proprio umbigo de voces,ahahahaha! "imbecil, idiota, imbecil, idiota" vcs que sao
By Anônimo, at terça-feira, 10 outubro, 2006
nossa pri sua materia ficou muito boa...
realmete a violencia contra a mulher e uma das piores violações dos direitos humanos...
e muito ruim mesmo principalmente para as mulheres pobres...
...
By Anônimo, at quarta-feira, 11 outubro, 2006
Raphael: "Não sejam limitados a ponto de julgar".
Momento de reflexão...
Não seria tal afirmação um julgamento? Faça um exercício, tente passar uma ou duas horas sem exercer um mero JULGAMENTO, ou pelo menos uma análise... vai, confessa, não conseguiu né?
É claro. Pessoas como eu e vc, que possuem o mínimo senso crítico - apesar das divergências, não passam batidas pelos fatos e notícias. Julgamos, sim! Mas a luta maior se dá em defender o seu julgamento, e não em destruir os alheios.
By Anônimo, at quarta-feira, 11 outubro, 2006
Errata:
Substitua "Não sejam limitados a ponto de julgar" por "Não interprete erroneamente as minhas palavras."
:)
By 'raphael, at quarta-feira, 11 outubro, 2006
Peço o enorme favor de interpreta-las para mim!
By Anônimo, at quarta-feira, 11 outubro, 2006
Interprete o que está lido, não é tão difícil.
Só disse que a conclusão de que eu sou homófobo a partir da leitura (o que eu reconheço que ninguém afirmou, mas creio que tenha passado pela cabeça de algumas pessoas) é longe de ser verdade. Não vou desenhar.
By 'raphael, at quarta-feira, 11 outubro, 2006
Além do magnífico poder da retórica, nosso nobre leitor tem também o dom de adivinhar o que se passa na cabeça das pessoas?! Mágico...
Voltemos ao debate argumentativo ou continuemos nessas alfinetadas infantis?
By Anônimo, at quarta-feira, 11 outubro, 2006
Conte o post "Vai brigar com número? Imprime ele, põe a folha na parede e inicie uma discussão..." como último então, porque depois disso só houveram alfinetadas infantis.
By 'raphael, at quarta-feira, 11 outubro, 2006
Faça sua excelente monografia em apenas 4 dias! Não é milagre. É simplesmente organização, disciplina e técnica!
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Prof. Sandro
By Anônimo, at segunda-feira, 26 agosto, 2013
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