Horário de Brasília

sábado, setembro 30, 2006

. DE VISTA

Perceba como a revolução tecnológica contemporânea aliada ao poder da informação no desenvolvimento das relações atua em momentos decisivos para o futuro

Por Carmen Gonçalves

Qual seria o segredo para as novas gerações viverem bem? Se você fizer essa pergunta, a primeira resposta que virá à cabeça da maioria das pessoas será algo ligado à tecnologia da informação.

Mas porque essa expressão carregada de símbolos e paradoxos tem se tornado tão essencial para o dia-a-dia do homem moderno? Essa resposta é, provavelmente, o centro da crise social (e porque não existencial) que vivemos hoje. O sistema político atual – a tão especulada globalização – e a lógica capitalista colaboram incentivando o consumo, o egocentrismo, o narcisismo. Aliado a isso, temos o cenário de avalanche tecnológica que nos desatualiza a cada novo minuto, trazendo novidades que facilitam tanto a vida que até mesmo o conhecimento é incorporado por equipamentos, cada vez mais sedutores e potentes. O conhecimento humano está aumentando explosivamente e, coletivamente, o mundo está ficando mais inteligente. Individualmente, o homem se depara com um grau de exigência cada vez maior, em muitos casos passa a dar menos valor às relações afetivas, necessita dominar a informação, coloca prioridade do ter sobre o ser e despreocupa-se com a dignidade humana do próximo e com o meio ambiente.

Totalmente inseridas neste contexto, e não mais poupadas de qualquer espécie de degradação humana, estão surgindo as novas gerações. Crianças e adolescentes de hoje vêem, vivem e se misturam a essa onda, são seduzidos por esse universo cada vez mais cedo e com maior facilidade. A mídia, normalmente agressiva, se encarrega de incutir nessas cabecinhas, já não tão inocentes, valores sempre muito ligados às tecnologias atuais e o modo de vida dessas crianças fica perigosamente dependente das facilidades que essa revolução informatizada traz.

Embora os lados positivos dessa realidade sejam inúmeros, são sempre individuais. Uma prova disso é a exclusão digital que vivem inúmeras pessoas, independente de países ou fronteiras. Comunidades inteiras são completamente privadas de qualquer contato com esse mundo novo e, apesar de parecerem bem assim, estão à margem da nova ordem mundial, o que as transforma em itens dispensáveis, seres sem importância no ciclo individualista que traçamos como ideal de vida já para nossas crianças, deixando-as sem escolha, sujeitas a essa realidade.

Em Brasília, acontece um lançamento que vem a calhar para explicar esse contexto. Uma escola para adolescentes de classe média alta, a mais tradicional da cidade, está inaugurando seu serviço de ensino à distância, o EAD, utilizando para isso a Internet. A idéia dos coordenadores do projeto é ótima, segue fielmente o modelo já aplicado em vários outros lugares: possibilitar que uma criança tenha aulas alternativas, não-presenciais, mas com exercícios, conteúdo e até mesmo plano de curso. O aluno é matriculado se quiser e terá a facilidade de se preparar para o futuro no conforto do seu quarto, acessando seu computador. Mas como fazer uma criança acostumada com esse comportamento entender que o convívio com outras crianças é muito mais importante do que quase tudo numa escola? Como convencê-la de que o hábito de folhear um livro acrescentará na sua formação cultural positivamente? Será que esse aluno estará mesmo se preparando para o futuro?

A pergunta mais freqüente é um ponto crítico dessa nova filosofia: seria esse modelo capaz de substituir a educação convencional, as escolas, professoras, a leitura? Tomara que não. Sendo mais clara, é inegável o dano que essa cultura digital está causando nas novas gerações, é totalmente perceptível que muitas crianças estão se tornando seres mais egoístas, tímidos, fechados em seu mundo de jogos e salas de bate papo. Criam novas linguagens, novos costumes, fazem das suas tribos grupos tão exclusivos, impossíveis de penetrar. E, a não ser que isso não passe de uma fase, o futuro delas desenha-se complicado, provavelmente serão adultos cheios de problemas pessoais e afetivos, workaholics assumidos e pais neuróticos. Assim como a liberação sexual nos anos 70 causou danos irreversíveis às gerações da época, é preciso cuidar para que essa tendência incontrolável para a comunicação não seja tão avassaladora como esperam os mais pessimistas.

Também em Brasília, acontece um exemplo positivo da globalização influenciando comportamentos: a Universidade de Brasília (UnB) conhecida nacionalmente por sua excelência, inaugurou esse ano a agência AAI, Assessoria de Assuntos Internacionais. Trata-se de um órgão interno que se encarrega de manter contato com outras universidades no mundo e viabiliza o intercâmbio cultural de alunos de graduação e mestrado. Os interessados passam por uma série de entrevistas e avaliações e, se aprovados, sua viagem é totalmente custeada pelo governo. São ao todo 29 instituições associadas e os alunos espalhados por outros quatro continentes já somam quase 300. A informação em forma de cultura possibilita para esses jovens experiências únicas e eles trarão para o país seu conhecimento em forma de profissão. É um bom exemplo que nos ajuda a perceber que não é o excesso de informação e de tecnologia que impede o crescimento humano, mas sim, como essas potencialidades estão sendo utilizadas.

O segredo para as novas gerações então, provavelmente está na família, na tradição que ela nos remete. Essa corrida digital e cultural é necessária, também não se pode querer que uma criança se torne alheia a sua realidade, seria muito mais injusto. Todas as portas abertas por essa nova era representam mundo novos e muito interessantes, mas também perigosos, então se deve ter cuidado. Complementando a idéia de família, o segredo pode estar também no equilíbrio, não se pode deixar de impor limites a uma criança ou adolescente. Algumas regras simples e tão antigas quanto esse mundo ainda são fundamentais e ajudam a entender que a maior necessidade frente a esse furacão social e cultural é o cuidado em preservar e conservar a infância, não esperando das novas gerações futuros Bill Gates, Michael Jordans, Ronaldinhos, Lucianos Huck, e por aí vai. Devemos cultivar, (fique claro) sem pretensões, pequenos Gandhis, Mandellas, Betinhos.

A tecnologia pode entrar em retrocesso e a humanidade não vai acabar por isso. O que não pode acontecer é o ser humano entrar em retrocesso, é o abandono de culturas antigas, filosóficas e éticas, conhecimentos necessários ao processo de evolução que nunca cessa.

7 Comments:

  • grande carmelita! to bebado! juro que amanha leio com todo o carinho! ops, hoje! ;***

    By Anonymous Anônimo, at domingo, 01 outubro, 2006  

  • Cara, sou tão seu fã que não resisti! Mesmo chapadão eu dei uma lida...

    Pontos a comentar:

    1) EXCLUSÃO DIGITAL, o grande problema do século XXI!

    2) Realmente - não tem nada como ir à escola. Todos passam por inúmeros problemas e eles são positivos, ajudam a pessoa a melhorar sua conduta social e amadurecer, preparar-se para o mercado. Imagina se você chega com 20 anos numa firma e recebe um apelido pela primeira vez. Agirá feito um bobão de 5 anos de idade?

    3) O isolamento do indivíduo - não só consigo, mas com seus "semelhantes" - cria os chamados Nerds Clubes, esses fãs de Star Wars, Guerra nas Estrelas, etc. Tô brincando, gente, foi só pra ilustrar, até porque eu AMO Star Wars mas não participo de nenhum fã-clube ;D Ou seja: forma grupos bizarros, incompatíveis com a realidade. Eu acho que os Emos são um sinal do APOCALIPSE TECNOLÓGICO (não confundir com a Bíblia), devem ser um efeito colateral de estruturas familiares falidas!

    Acho que era só!!! Muito inteligente essa minha chefa! Se chegar algum mané criticando seu texto sem base você já sabe: ignore, porque neste Blog isso está acontecendo como nunca!

    PS: atenção nos "porque"s que em perguntas são separados hein ;D hahaha desatenção como aquela minha do "incontente" ou "Ministério da Economia" que você corrigiu.


    Valeu, fui!

    By Anonymous Anônimo, at domingo, 01 outubro, 2006  

  • Nossa, PQP...

    nerds clubs*

    star wars = guerra nas estrelas; eu ia dizer jornada nas estrelas.

    boa votação pra todos

    Rafael Aguiar

    By Anonymous Anônimo, at domingo, 01 outubro, 2006  

  • Excelente texto e excelentes comentarios...
    kkkkkk

    By Anonymous Anônimo, at domingo, 01 outubro, 2006  

  • Ei, faltou um título para o artigo também né!

    SUBCOMANDANTE: CADÊ A DOR NO COTOVELO E NA CABEÇA? LULA GANHOU NA PORCENTAGEM MAIS PERDEU, SE É QUE VOCÊ ME ENTENDE. HEHE. O QUE VIER DE AGORA EM DIANTE É LUCRO, GUERRILHEIRO FALSIFICADO.

    By Anonymous Anônimo, at segunda-feira, 02 outubro, 2006  

  • mas*******

    Deus, como fui errar isso :D Deve ser o êxtase por ver tantos radicais de merda com a cara no chão pelo menos hoje. CORRUPÇÃO NÃO É REELEITA EM 1º TURNO NEM POR POBRETÃO! Fiquei aliviado de saber que mais da metade das pessoas desse país tem vergonha na cara.

    By Anonymous Anônimo, at segunda-feira, 02 outubro, 2006  

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    By Anonymous Anônimo, at segunda-feira, 26 agosto, 2013  

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