Horário de Brasília

terça-feira, setembro 26, 2006

RE&LEITURA - O começo da Babilônia

Por Carmen Gonçalves
Diversidades das mais inusitadas eram só o que poderiam esperar os desbravadores do território que é hoje o estado de Goiás, no século XVIII. O sertão bruto, animais desconhecidos, tribos indígenas, vegetação do cerrado e trilhas para serem abertas eram a única paisagem que se avistava em meses de viagem.

O ano de 1734 marcou a primeira incursão de bandeiras pelo sertão do planalto central brasileiro. Homens com almas de tropeiros foram rumo ao desconhecido e trataram de estabelecer a primeira Estrada Real dos Goyazes, como era chamada a região goiana atual. Em busca de ouro, a bandeira vasculhou o mapa do centro do País e deixou documentos que comprovam o sucesso da aventura. No livro Viagem pela Estrada Real dos Goyazes, três historiadores brasilienses relatam a saga dos bandeirantes tropeiros, e mais: provam que a Estrada cruzou, de ponta a ponta, o território que hoje se denomina Distrito Federal.

Baseados em manuscritos enviados a El Rei e disponíveis no Acervo Histórico Ultramarino, Deusdedith Junior (Professor Zezeu do UniCEUB), Wilson Vieira e Rafael Cardoso remontaram a trajetória dos viajantes, topando com surpresas muito gratificantes pelo caminho. Segundo Professor Zezeu, o contato com as comunidades tradicionais foi surpreendente e fascinante. Adentrar o cerrado, refazer trilhas e estar (mesmo que por instantes), seguindo os passos deixados por desbravadores como José da Costa Diogo (relator das cartas a D. João V, os objetos de estudo do livro) possibilitaram um conhecimento incrível para os historiadores. O estudo descreve desde detalhes sobre as relações comerciais entre os colonos e a coroa, os tributos absurdos a que eram submetidos e até a cartografia detalhada da viagem de muitos meses a fio pelo sertão dos Goyazes. O relato passa ainda pelas deslumbrantes paisagens do cerrado brasileiro, evidenciando, desde aquela época, a beleza da biodiversidade do bioma. Passa também pelas relações de poder que ali se estabeleceram, longe dos olhares da coroa portuguesa.

Um traço fundamental do livro é a identidade provocada com o DF de hoje. O relevo e, principalmente, as fazendas que existiam aqui são provavelmente a verdadeira história do povo que habita o Planalto Central. Nomes de regiões administrativas de Brasília como Sobradinho são, na verdade, herdados de enormes fazendas que existiam no solo onde hoje existe a capital. O Parque Nacional de Brasília (ou Água Mineral) foi uma das trilhas destes homens, que iam e viam em território brasiliense transportando, além de ouro e animais, muita cultura e diversidade.

O estudo é grandioso. Está aí uma ótima pedida para os brasilienses. Antes dos candangos e paus-de-arara, certamente as origens do que hoje podemos chamar de Torre de Babel Brasileira, ou seja, Brasília, estão incrustadas nas trilhas centenárias do cerrado.
Mais informações: www.homemdocerrado.com

2 Comments:

  • Uma verdadeira aula de História, chefinha!

    Essa menina adora mato, ama a natureza! \o/ Haha

    Sempre quis saber o que o Zezeu traduzia, ele sempre comentava de uns "manuscritos misteriosos"... ;D

    Tenho que me despedir porque vou começar a matéria do Dossiê! ;D Boa noite rapaziada

    By Anonymous Anônimo, at quarta-feira, 27 setembro, 2006  

  • Bom texto!
    Belo trabalho o do Zezeu!
    Excelente livro!
    Grandes iniciativas...

    By Anonymous Anônimo, at quarta-feira, 27 setembro, 2006  

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