CIDADE – A Falta de um Passado pra Capital do Futuro
Por Peu Lucena
- “E aí brow, qual a sensação de viver numa maquete?”
E foi essa pergunta, feita por um amigo do Rio, que foi dura e cruelmente cuspida na minha cara e me fez ver a realidade que sempre esteve bem na frente dos olhos.
Ta certo que Brasília é uma cidade cativante, acolhedora e indiscutivelmente linda, monumental. Aqui temos a ótima oportunidade de conhecer pessoas dos mais diversos cantos do Brasil e do mundo, nos relacionar com elas e fazer trocas culturais nunca imagináveis se ainda estivéssemos em nossa cidade natal. Mas agora, e só agora, começo e enxergar o ônus de termos nos tornado essa farofa cultural: não temos cultura!
Parece cruel, mas é verdade. Ainda não tivemos tempo de desenhar nossa cara, nossa identidade se restringe a quarenta e poucos anos de imparcialidade. É exatamente o que acontece, logo que chegam à capital seus novos habitantes perdem sotaques e costumes para tentarem se adequar o mais rápido possível, ao nada! E esse processo que se repetiu e se repete em ciclos nos deu a oportunidade de termos uma geração de nadas.
Não há fervor cultural na nova capital, não existe movimento, engajamento, não há emoção, nem juventude ativa. E a única melancolia que temos, devemos inteiramente ao nosso eterno Renato Russo. Existem sim os que vagam de churrasco em churrasco, ao som de Chiclete com Banana, Bruno e Marrone ou MC Alguma Coisa. Existem os que nem isso fazem, se isolam nos computadores e orkuts da vida, existem os pseudo-hippies, existem ainda os que falam demais e não fazem nada, e os poucos que não falam nada e que ainda fazem alguma coisa.
Vivemos com o rei na barriga: “Moramos na casa do poder!”. Tolos. Será que não nos passa pela cabeça que somos meros assinadores e carimbadores de papel?! Que as coisas REALMENTE acontecem no eterno eixo Rio-São Paulo e não aqui?
Não percebe que fomos estrategicamente colocados em uma ilha no meio do cerrado, com seres alienados, concursados, cuja maior habilidade tem de ser grampear e carimbar papéis, anestesiados pelo belo posto de maior qualidade de vida do país e quase que dopados pelo alienante Chiclete com Banana? Sem nenhuma condição psicológica e intelectual para protestar, reivindicar... ou seja, criados pra não perturbar!
Quando haverá juventude? Quando haverá vida? Quando deixaremos de ser essa fria maquete e nos tornaremos uma fervilhante cidade?
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8 Comments:
ei, isso não é verdade!!!!!
nós, os brasilienses, somos plenos de cultura e carisma! somos indiscutivelmente babilônicos, corre dentro das nossas veias sangue de todo o Brasil! e não só pq as famílias e misturaram, mas também pq nossos professores, amigos, contatos, chegados, conhecidos, funcionários e chefes, enfim, todos são diferentes... o sotaque, dispenso.... sotaques são vícios q denigrem a língua.
Renato Russo, bem, um poeta, sem dúvida. Mas e quanto à Rui Faquini, Oswaldo Montenegro, Fernando Pacheco, Milton Guedes, Os paralamas, Hugo Rodas, Zélia Duncan, Cassia Eller, Guilerme Reis (puta diretor de cinema, reconhecido no exterior!!!), Hamilton de Holanda, e quantos mais vcs quiserem!!!! e quanto ao Gate's, ao Beirute, à Feira da Torre, ao Teatro Nacional? Se vc for diretor ou ator e tiver um filme ou espetáculo reconhecido e aplaudido em Brasília, vc estará com as portas de todas as oportunidades abertas, somos o público mais exigente e intelectualizado do país! Por falar nisso alguem esqueceu do Festival de Cinema de Brasília?
Nossa Babilônia, nosso patrimônio, cidade de horizontes ainda verdes, de domingo e de feriado, cidade boa pra ficar quietinho em cs namorando, pra ser amigo do seu vizinho, cidade iluminada pela sombra da Chapada, cidade cheia de luz!!!!
Centro do Poder sim, e juventude parcialmente alienada sim....isso porém não é nosso privilégio, parte de um contexto sócio-educacional e não cultural.
E mesmo assim, com seus muitos problemas, Brasília é um espetáculo pra ser aplaudido de pé!
By Anônimo, at terça-feira, 09 maio, 2006
e quanto aos concursados: o Rio de Janeiro, por exemplo, possui quase o tripo de funcionários que trabalham para o governo. Entre nós, não são nem a metade, mas se fosse, muito justificável.
outra: nem todos os funcionários públicos são carimbadores de papel. Aliás, esses tipos estão cada vez mais de lado. Sei disso pq trabalho numa empresa do governo e te digo, com toda certeza que quem não mostra serviço, uma hora roda. Você não imagina como nós trabalhamos!!!!!!
Vá até a sua janela e respire fundo... olhe bem o verde e as crianças que certamente estarão lá.. sinta a brisa e se for de tardinha, não se prive do por do sol incrível que o céu de Brasília irá te dar de presente!!!!!
By Anônimo, at terça-feira, 09 maio, 2006
Indiscutivelmente bela e pacata, indiscutivelmente radiante e saudável... indiscutivelmente interiorana e cosmopolita!
Digamos que eu quase caí no belo conto de fadas então narrado pela vossa pessoa... Mas pra mim, ainda maquete!
Com todas as regalias e temperos necessários para que nunca sintam falta do fervor cultutal!
By Anônimo, at terça-feira, 09 maio, 2006
meu deus, não estamos falando da mesma cidade!!!!!!! se vc quer blocos de rua, vá para Olinda..... o q quer com fervor cultural??????????????????????????????????????????????????????????????????? cada cidade, cada povo tem sua dose de fervor meu bem....da próxima vez que eu for curtir meu final de semana te levo junto, topas????
beijoooooo
By Anônimo, at quarta-feira, 10 maio, 2006
Convite mais que aceito...
By Anônimo, at quarta-feira, 10 maio, 2006
Não consigo imaginar nossa bsb com mais fervor cultural do que atualmente tenho encontrado na unb. Talvez por nunca ter saído daqui... =/ Quem sabe quando eu for ao RJ eu encontre uma cidade de verdade e não uma cidade-maquete
By Alexandre, at sábado, 13 maio, 2006
Por que quem mora em Brasília perde seu sotaque. Se voce for ver nos primórdios da formaçao de nossa língua-mãe, pareceberá que foi justamente o que ocorreu quando portugueses de todas as regiões da Capital vieram para a colonia. Perdemos nosso sotaque, transformando nossa língua numa KOINÉ, palavra de origem grega, que significa uma uniformidade da língua, onde vários dialetos e sotaques se fundem, deixando sua comunicação mais fácil. Foram mais de 250 anos até que as leis Pombalinas finalmente instituissem uma língua oficial no Brasil, trazendo o portugues para cá de vez, devastando a chance de termos uma língua indígena, como tem nossos vizinhos paraguaios (falam o espanhol e guarani). Se achas que Brasília (de)forma a nossa língua, olhe bem antes, lá pelo século XIX e perceba que o que se passa hoje na capital nada mais é que a junção harmonica de todos os habitantes do nosso país.
O que há por vir não será nada ruim. Aguarde os próximos capítulos.
By Anônimo, at domingo, 14 maio, 2006
Por que quem mora em Brasília perde seu sotaque? Achas mesmo que é forçado??? Se você for estudar os primórdios da formação de nossa língua-mãe, pareceberá que foi justamente o que ocorreu quando portugueses de todas as regiões da Capital vieram para a colonia. Eles perderam seus sotaques, transformando a língua numa KOINÉ, palavra de origem grega, que significa sua uniformidade, em que vários dialetos e sotaques se fundem, deixando sua comunicação mais fácil. Foram mais de 250 anos até que as leis Pombalinas finalmente instituissem uma língua oficial no Brasil, trazendo o português de Portugal para cá de vez, devastando a chance de termos uma língua indígena, diferentemente de nossos vizinhos paraguaios (falam o espanhol e guarani). Se acreditas que Brasília (de)forma a nossa língua, olhe bem antes, lá pelo século XIX e perceba que o que se passa hoje na capital nada mais é que a junção harmonica de todos os habitantes do nosso país.
By Anônimo, at domingo, 14 maio, 2006
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