OPINIÃO - 1° de maio
Por Carmen Gonçalves
Dia de festa, música e descanso. É isso que o brasileiro entende como Dia Internacional do Trabalhador.
Instituído no Brasil por Getúlio Vargas, o primeiro de maio veio para marcar as conquistas e realizações trabalhistas que, de fato, ocorreram no país naquele governo. Como forma de reconhecimento à força de trabalho que empurra a nação para frente, foi separado um dia no calendário para que o povo refletisse sobre suas reais vitórias no setor. Nesta época, havia mesmo o que comemorar. A CLT era criada e se consolidava como verdadeira conquista e, com ela, todos os direitos humanos de cada trabalhador, todas as garantias de condições justas de trabalho. Além disso, as estatais, os famosos “bras”- Petrobrás, Telebrás, Eletrobrás, entre outras, foram criadas e, mesmo com todas as ocasiões de corrupção e mau uso de dinheiro público desde então, cumpriram sim ( e as que restaram após uma política neo-liberalista ainda cumprem), ao longo destes cerca de 60 anos, a sua função social.
O Dia do Trabalhador surgiu nos Estados Unidos, em reconhecimento à morte de operários ocorrida pela repressão sofrida por trabalhadores em dia de protesto por melhores condições de trabalho e salários mais justos. É, portanto, de se esperar que o primeiro de maio seja, ainda após cem anos do acontecido fato, dia de conscientização, protesto, indignação, manifestação, enfim, qualquer ato pacífico do povo para o povo.
No Brasil, porém, como em quase todas as situações político-sociais, não se observa esta postura do povo. Exceto, é claro, em fases de pressão social isoladas e características (os “rebeldes” e “revolucionários” contra a ditadura, os “caras-pintada” de Collor, os manifestantes das Diretas, etc.), não há movimentação social, povo organizado. Neste primeiro de maio, ano eleitoral, a Av. Paulista, palco das mais orgulhosas manifestações sociais que tivemos, exibiu show de música sertaneja e discurso demagogo e populista partidário para quem foi lá conferir. Após 2000 anos de Roma, ainda vigora o pão e circo. Ainda se encara o povo como palhaço, incapaz, débil mental. E pior: este povo aceita. Torna-se comparsa e coadjuvante do desrespeito e da desfaçatez. Neste primeiro de maio, nada de reflexão, debates, movimentos estudantis, passeatas de luto e reivindicações. Para um desavisado que vê, até parece que não temos mais o que concertar. O que este povo tristemente passivo acharia se, ao invés do rosto careteiro das duplas sertanejas, visse nos telões da Av. Paulista a miséria de pessoas catando comida nos lixões das grandes capitais? O que acharia este povo ao ver crianças viajando de barco 10 horas diárias para chegarem à escola na Amazônia, ao verem professores com jornada tripla, ou então caminhando 5 horas diárias em estrada de terra para chegar aos seus alunos em troca de uma galinha no fim do mês? O que diria este povo omisso ao ver lavradores do sertão lutando contra as piores adversidades, ao ver operários atravessando capitais a pé para chegarem às fábricas, porque não tem como pagar três, quatro passagens de ônibus? O que faria este povo ao ver imigrantes bolivianos realizando trabalho escravo em porões da praça da Sé? Qual seria a reação deste povo ao ver que grande parte da PM carioca é formada por moradores das favelas, que além de terem um salário de 400 reais, são obrigados a secarem suas fardas dentro de casa com a janela fechada? Isso para não falar de preconceito racial, censura velada, abandono, impostos altíssimos, pouco ou nenhum acesso a redes de saúde, para não falar da previdência vergonhosa, que trata os velhos brasileiros como quem já devia ter morrido.
O que diria, qual seria a reação? Não diria nada, não faria nada. Simplesmente porque o mesmo povo que lotou hoje a Av. Paulista é quem sofre toda essa violência. Este povo tão rico de sentimentos, de cultura, de amor pelo próximo é quem se deixa maltratar, humilhar. É quem se faz de cego, de rogado perante a politicagem e à afronta. É este povo que mais uma vez vai escolher o que será de si mesmo, em outubro próximo. Adiantaria implorar que não estejam com as caras e bocas de cantores acéfalos e traseiros de dançarinas em mente?
Dia de festa, música e descanso. É isso que o brasileiro entende como Dia Internacional do Trabalhador.
Instituído no Brasil por Getúlio Vargas, o primeiro de maio veio para marcar as conquistas e realizações trabalhistas que, de fato, ocorreram no país naquele governo. Como forma de reconhecimento à força de trabalho que empurra a nação para frente, foi separado um dia no calendário para que o povo refletisse sobre suas reais vitórias no setor. Nesta época, havia mesmo o que comemorar. A CLT era criada e se consolidava como verdadeira conquista e, com ela, todos os direitos humanos de cada trabalhador, todas as garantias de condições justas de trabalho. Além disso, as estatais, os famosos “bras”- Petrobrás, Telebrás, Eletrobrás, entre outras, foram criadas e, mesmo com todas as ocasiões de corrupção e mau uso de dinheiro público desde então, cumpriram sim ( e as que restaram após uma política neo-liberalista ainda cumprem), ao longo destes cerca de 60 anos, a sua função social.
O Dia do Trabalhador surgiu nos Estados Unidos, em reconhecimento à morte de operários ocorrida pela repressão sofrida por trabalhadores em dia de protesto por melhores condições de trabalho e salários mais justos. É, portanto, de se esperar que o primeiro de maio seja, ainda após cem anos do acontecido fato, dia de conscientização, protesto, indignação, manifestação, enfim, qualquer ato pacífico do povo para o povo.
No Brasil, porém, como em quase todas as situações político-sociais, não se observa esta postura do povo. Exceto, é claro, em fases de pressão social isoladas e características (os “rebeldes” e “revolucionários” contra a ditadura, os “caras-pintada” de Collor, os manifestantes das Diretas, etc.), não há movimentação social, povo organizado. Neste primeiro de maio, ano eleitoral, a Av. Paulista, palco das mais orgulhosas manifestações sociais que tivemos, exibiu show de música sertaneja e discurso demagogo e populista partidário para quem foi lá conferir. Após 2000 anos de Roma, ainda vigora o pão e circo. Ainda se encara o povo como palhaço, incapaz, débil mental. E pior: este povo aceita. Torna-se comparsa e coadjuvante do desrespeito e da desfaçatez. Neste primeiro de maio, nada de reflexão, debates, movimentos estudantis, passeatas de luto e reivindicações. Para um desavisado que vê, até parece que não temos mais o que concertar. O que este povo tristemente passivo acharia se, ao invés do rosto careteiro das duplas sertanejas, visse nos telões da Av. Paulista a miséria de pessoas catando comida nos lixões das grandes capitais? O que acharia este povo ao ver crianças viajando de barco 10 horas diárias para chegarem à escola na Amazônia, ao verem professores com jornada tripla, ou então caminhando 5 horas diárias em estrada de terra para chegar aos seus alunos em troca de uma galinha no fim do mês? O que diria este povo omisso ao ver lavradores do sertão lutando contra as piores adversidades, ao ver operários atravessando capitais a pé para chegarem às fábricas, porque não tem como pagar três, quatro passagens de ônibus? O que faria este povo ao ver imigrantes bolivianos realizando trabalho escravo em porões da praça da Sé? Qual seria a reação deste povo ao ver que grande parte da PM carioca é formada por moradores das favelas, que além de terem um salário de 400 reais, são obrigados a secarem suas fardas dentro de casa com a janela fechada? Isso para não falar de preconceito racial, censura velada, abandono, impostos altíssimos, pouco ou nenhum acesso a redes de saúde, para não falar da previdência vergonhosa, que trata os velhos brasileiros como quem já devia ter morrido.
O que diria, qual seria a reação? Não diria nada, não faria nada. Simplesmente porque o mesmo povo que lotou hoje a Av. Paulista é quem sofre toda essa violência. Este povo tão rico de sentimentos, de cultura, de amor pelo próximo é quem se deixa maltratar, humilhar. É quem se faz de cego, de rogado perante a politicagem e à afronta. É este povo que mais uma vez vai escolher o que será de si mesmo, em outubro próximo. Adiantaria implorar que não estejam com as caras e bocas de cantores acéfalos e traseiros de dançarinas em mente?
6 Comments:
poxa, seus textos já estavam fazendo falta!!! q bom q está de volta! e em grande estilo.... muito bom
By Anônimo, at terça-feira, 02 maio, 2006
realmente é tanta coisa junta, tanta injustiça, e bocado de acomodação mesmo, que o brasileiro está apático... anestesiado... é urgente uma reviravolta nesse quadro, precisamos sacudir essa poeira pra ontem..
beijos amiga, parabéns pelo texto!
By Anônimo, at terça-feira, 02 maio, 2006
hei, prima, principalmente obrigada pela oportunidade de reflexão!
vê se aparece qq hora dessas..
By Anônimo, at terça-feira, 02 maio, 2006
na verdade o segredo está bem na nossa cara e latente! é a cidadania que precisa aflorar para nós, brasileiros!!!!!
perceber isso é muito triste, mas por outro lado já é um sinal de que algo nos incomoda, e muito! vamos deixar de hipocrisia então, por favor.....vamos colocar em prática nossos ideais, vamos deixar de simplesmente ter dó dos mais pobres ou de quem tem mais dificuldade do que nós e procurar ajudá-los de alguma forma.... sempre é possível..
By Anônimo, at terça-feira, 02 maio, 2006
uma luta diaria a caminho da esperanca.... o nosso grande combustivel!
By Anônimo, at terça-feira, 02 maio, 2006
Bonito discurso Carmen, mas... vc se esqueceu que está chegando a copa, quem sabe até ao final deste ano, alguém se toque de alguma coisa. A mídia é outra que faz questão, de deixar de lado o espaço jornalístico, pra ir pra corrida do ouro, de quem faz a melhor cobertura... Dessa vez, acho que estão tapando o sol com a "panela" mesmo...
By Anônimo, at quarta-feira, 03 maio, 2006
Postar um comentário
<< Home