Há cem anos atrás o velho-oeste americano era povoado por pessoas de todo o tipo. Imigrantes de todo lugar, unidos pelo sonho de uma vida nova, cheia de esperança e planos. Alguns criaram seus negócios que ainda existem até hoje, outros contribuíram com invenções e uns resolveram tirar proveito das pessoas de bom coração. Assaltavam, faziam reféns e matavam por muito pouco. Em algumas cidades o grupo de bandoleiros criava uma onda de pânico tão grande que entravam na cidade atirando, pisoteando as pessoas com seus cavalos e incendiando tudo que viam pela frente. Parece até um roteiro de filme, claro já assistimos filmes com essas cenas mas algo assim ocorreu aqui na minha pequena cidade, chamada São Paulo.
Moro aqui desde que nasci, acho a cidade fascinante, tem uma vida agitada e sobrevive no meio da fumaça das indústrias e dos automóveis que circulam quase que 24 horas por dia. Pessoas pipocam pra lá e pra cá atrás de seus afazeres, andando no meio do perigo e lidando com isso da melhor maneira possível.
Uma bela sexta-feira, os bandoleiros chegaram, quer dizer tomaram as cadeias em todo o estado, conseguiram fazer isso mesmo atrás das grades, com armas feitas com pedaços de aço, ferro e tudo mais que conseguem encontrar e ainda contam com a incrível ajuda de aparelhos celulares, roubados, comprados de agentes carcerários, presenteados por advogados. Sempre me lembro de uma frase “Sem advogado não se faz justiça” acredite quem quiser!! Pois é, parece uma grande piada de mau gosto mas isso realmente aconteceu diante dos olhos do governo estadual. Eles usam pra falar com a família, pra combinar ações, roubos e coisas do tipo, parecem pessoas comuns marcando um happy hour no final do expediente.
Tudo começou por causa da transferência de presos considerados importantes, tá só se for pros membros do PCC e pro Governo, por que pra sociedade são parte do lixo que não é reciclável, gente do mal mesmo. Antes o sistema americano fosse tomado como base aqui, na minha visão é o único que funciona. Presos trabalham, limpam estradas, fazem de tudo pra ganhar dinheiro e recomeçar suas vidas, alguns acham a redenção outros saem pior do que a encomenda.
A cidade se transformou no caos, do mesmo jeito que no velho-oeste, pessoas indo pra suas casa em busca de abrigo, fechando seus estabelecimentos protegendo sua propriedade e mercadorias e ao mesmo tempo sentindo raiva por matarem seu cavalo, seu gado.
Esse realmente foi um dia estranho, pra falar a verdade não queria nem sair de casa, nem ouvir o que estava acontecendo, porém, somos pegos pela situação ridícula, pelo exagero da mídia. Tive que sair, minha avó tinha um exame pra fazer em um laboratório do Lavoisier no bairro de Higienópolis. Aqui perto de casa tem uma delegacia mas não aconteceu nada e como estava cheia de bloqueios tive que fazer outro caminho. Acabei passando pelo DAS, Divisão Anti-Sequestro, que havia sido atacada na mesma hora em que passava no lugar, foi um corre-corre maldito, o trânsito aumentou e carros da polícia passavam por lugares que você acharia impossível que um veículo daquele tamanho conseguisse. Apesar da confusão consegui chegar no Lavoisier, mas tive que passar por outra delegacia. A Avenida Angélica tinha duas faixas bloqueadas no quarteirão todo, ao meu lado um policial, claramente apavorado apontava sua escopeta para um motorista em uma Fiorino de entregas que não tinha nada a dever, mas que poderia conter suspeitos armados na caçamba coberta, como aconteceu em outros pontos da cidade.
No tempo em que fiquei esperando a hora do exame, vi as pessoas boquiabertas assitirem a tv, discutindo a situação, querendo pena de morte para os bandidos e indignadas com o indulto em feriados, e eu tentando me isolar do fato e ler meu livro sobre culinária mundial. A consulta demorou tanto que já haviam passado muitos carros de polícia pra lá e pra cá, o helicóptero que sobrevoava me lembrou Apocalipse Now.
O dia passou dessa maneira, o pânico tomou conta das pessoas, shopping centers foram fechados, escolas e universidades cancelaram suas aulas, a população voltando a pé pra casa, kilometros de congestionamento nas marginais Pinheiros e Tietê.
À noite, meu bairro estava deserto, como as ruas depois que os bandoleiros passavam, empoeiradas. Parecia a noite mais fria do ano num feriado de julho, uma noite daquelas que você dorme sossegado sem barulho na rua, mas não era bem esse o cenário. No final das contas o crime conseguiu o que queria, causar medo, controlar a situação, não em sua totalidade mas o suficiente pra balançar as estruturas.
Nessa noite, os bandoleiros passaram como um furação, o xerife e seus deputados nem tiveram chance de reagir.
Espero que os próximos dias e noites voltem a ser normais para os padrões caóticos desse velho-oeste paulistano.
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5 Comments:
A maior cidade do nosso país passou por dias de literal Guerra Civíl. Ter acompanhado como mero espectador já foi traumatizante, um sentimento enorme de impotência. Imaginem estar vivendo e tentando conviver com tal barbárie.
Que país é esse?
By Anônimo, at quinta-feira, 18 maio, 2006
A maior cidade do nosso país passou por dias de literal Guerra Civíl. Ter acompanhado como mero espectador já foi traumatizante, um sentimento enorme de impotência. Imaginem estar vivendo e tentando conviver com tal barbárie.
Que país é esse?
By Anônimo, at quinta-feira, 18 maio, 2006
Só quem estava em São Paulo na última segunda-feira sabe o que é realmente viver diante do pânico da guerra junto com as armas. Mas, pelo visto, as coisas estão "melhorando", ainda bem que o Governo negociou com o PCC.
PS: Mandei um e-mail para vocês.
By Anônimo, at quinta-feira, 18 maio, 2006
mas pra mim o pior é que, depois de passado o furacão, as pessoas esperarem q tudo volte pro seu devido lugar, q elas achem normal q a ordem continue como era antes. Uma q não vai ser como antes e outra, o furacão não serviu pra abrir os olhos de ninguém! as pessoas se recusam a isso! Não podemos escolher, em outubro deste, passar por isso novamente!!!! a minha esperança é essa....
Parabéns pelo texto, ficou ótimo!!!!!
By Anônimo, at quinta-feira, 18 maio, 2006
Prezado Marcola,
Da próxima vez, não mire as armas de seu exército para a população. Vá direto à casa dos ordinários picaretas caras de pau q detém o poder nessa lama toda em q vivemos. Bata, à tiros, na porta de Marcio Tomas Bastos e cia. Vá tb à casa dos parlamentares q envergonham e denigrem nossa democracia... vá, por favor, à casa do miserável do governador atual de SP, Cláudio Lembo e dos comparsas filhos da mãe dele...ah, vc conhece bem a lista!
Nos faça esse favor!!!!
By Anônimo, at quinta-feira, 18 maio, 2006
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