DENÚNCIA – Uma etnia ameaçada
Terra krahô é cercada por plantações de soja no norte do Tocantins. Índios temem o desaparecimento da etnia.
Por Peu Lucena
Final dos anos 30, sul do Maranhão. O povo krahô sofreu nessa época um sangrento massacre promovido por fazendeiros que avançavam no processo de expansão territorial para a criação de gado. A etnia foi quase dizimada.
Os índios que sobreviveram à chacina caminharam durante dias, até encontrarem, no Tocantins terras ainda não ocupadas onde puderam estabelecer suas aldeias e reestruturarem suas famílias. Com o passar dos anos os krahô foram resgatando sua cultura original, quase que totalmente perdida quando da precária fuga do Maranhão, e voltaram a compor um conjunto numeroso de índios e aldeias.
No governos Vargas os krahô conseguiram a demarcação do seu território e a criação da reserva que lhes asseguravam ótimas condições para a sustentabilidade da etnia. Porém, com a proliferação da monocultura de soja, os índios ficaram novamente acuados e o medo de uma nova tragédia é iminente.
Com a degradante técnica do “correntão”, onde uma enorme corrente de aço é amarrada entre dois tratores que percorrem longas extensões do cerrado destruindo qualquer tipo de vegetação nativa, os fazendeiros de soja criam, da noite para o dia, imensas plantações que chegam até a beira dos rios que fazem a divisa natural da reserva, poluindo rios, afugentando os animais e modificando completamente a paisagem da região.
Inquietos, os krahô chamam as plantações de deserto verde, alegam que agora não estão mais protegidos pela reserva, mas sim presos nela. Estão confinados em uma ilha de mata nativa cercada por quilômetros e mais quilômetros quadrados de soja. Leia os relatos: “Temos plantações de soja a menos de dois quilômetros da divisa, está tudo derrubado perto do rio. Nós conversamos, fizemos reuniões e debates com caciques e prefeitos, mas não adianta, queremos acertar pra não derrubar a área toda, mas eles, o Ibama e a Funai, não resolvem”. Disse Isack Krahô, cacique da aldeia Santa Cruz.
Os índios dizem ainda que os peixes estão sumindo, os animais para caça agora são raros, e que até a temperatura está aumentando em virtude da degradação da mata. Eles temem terem de sair da reserva com o esgotamento dos recursos naturais.
Peu Lucena e Carmen Gonçalves estiveram na reserva krahô no mês de agosto de 2005. Foi produzido, pela Estúdio Capital, um fotodocumentário fruto dessa viajem. O curta foi inscrito e participará da IV Edição do Cineamazônia que acontece em Porto Velho, Rondônia, Brasil, de 15 a 18 de novembro de 2006. ASSISTIR
1 Comments:
até onde vai a sede por dinheiro?
By Martins, at terça-feira, 15 agosto, 2006
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