Horário de Brasília

domingo, setembro 10, 2006

MEIO-AMBIENTE – Brasil: a mina de ouro da biodiversidade

Por Carmen Gonçalves

“Chegamos a um momento histórico, em que o Brasil tem somente uma opção: crescer”
Vociferou semana passada o Ministro dos Transportes, Paulo Sérgio, num evento realizado em Brasília que discutiu os investimentos em infra-estrutura necessários para o setor nos próximos quatro anos. Afastando-se, por um instante, a corrida eleitoral, a crise política e certo ufanismo exacerbado, os brados do ministro traduzem com perfeição a condição de fera em potencial deste país-continente.

O superávit primário previsto para este ano ficará em torno de 40 bilhões de reais segundo o Ministério da Fazenda e os investimentos, também previstos, podem garantir um crescimento de 4,5% nos próximos dois anos, independente do resultado de 3 de outubro. Com o agrobusiness mais competente do planeta e o segundo parque industrial das Américas, o Brasil começa, finalmente, a mostrar a que veio.

Na última Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, que aconteceu no final de 2005, em Montreal (Canadá), o Brasil teve papel de peso nas negociações. Os recursos naturais do País atuam hoje de forma a garantir a sua soberania. Num paradoxo ao que acontecia em meados do século XX, o Brasil é visto como uma babel de biodiversidade, um provável refúgio natural para, quiçá, toda a humanidade (ou o que sobrar dela). Por meio do Secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, o Brasil propôs aos países participantes da Conferência um plano, batizado de “crédito de carbono”. Propõe que países com grandes coberturas florestais – como o Brasil – recebam compensações financeiras para manterem intactas suas reservas florestais e hídricas, principalmente. A sugestão foi amplamente aceita pelos países desenvolvidos e o plano deverá entrar em vigor já no próximo exercício, em fase de teste, com alguns países.

Ações de proteção a povos indígenas, por exemplo, têm mostrado um lado curioso nesta marcha de crescimento. Mesmo com toda a corrupção desavergonhada que existe no Ibama e na Funai, a cada ano, um número maior de índios brasileiros tem (re)conquistado a dignidade de suas etnias. Estudos da Unicef (disponíveis inclusive na internet) mostram que o governo brasileiro protege seus nativos. A última grande ação foi na tríplice fronteira, onde a administração da Binacional Hidrelétrica de Itaipu, a maior do mundo em atividade, adquiriu cerca de 1,7 mil hectares em Diamante do Oeste (RS), destinados a um grupo de 230 índios Ava-Guarani. A terra original da etnia havia sido completamente inundada em 1982, quando da construção da usina. A atual Reserva dos Ava-Guarani fica a 90 km do local histórica e originalmente ocupado por eles.

Desenvolvimento sustentável, termo altamente em voga, quer dizer crescimento econômico aliado à preocupação social e ambiental. A sua prática não chega a ser uma missão impossível, mas envolve, e muito, boa vontade política e cidadania. O Brasil começa a mostrar que se preocupa com o problema. A responsabilidade social nunca foi tão difundida entre as grandes empresas. Elas possuem os mais variados programas, que vão de creche para os filhos das funcionárias, até ações de reflorestamento de espécies ameaçadas de extinção, como ocorre com empresas de celulose no Sul que, há dois anos, replantam a Araucária. O Congresso Nacional aprovou, somente este ano, dezenas de projetos de lei que incentivam a prática social por trás do progresso e as empresas, grandes ou pequenas, retribuem ao proporcionar melhores condições de trabalho e menor agressão ambiental.

O desenvolvimento ambientalmente saudável também figura como destaque dos planos de governo da maioria dos candidatos neste ano. Ao lado de pautas como estabilidade econômica, geração de empregos e segurança, de alguma forma, a consciência ecológica está presente em todos os palanques. A proteção ambiental é conseqüência direta deste progresso racional e a economia só tem a lucrar com isso. Num país onde os investimentos internacionais estão cada vez mais ligados aos recursos naturais que podem ser explorados, e os nacionais voltam-se aos recursos que deverão ser preservados, o cenário aponta para um desenvolvimento fortemente atrelado à tolerância ambiental. Na verdade, empresários e investidores dão um valor imenso à biodiversidade que o Brasil possui, e os candidatos sabem muito bem disso. Mas o povo, ah, o povo...

A biodiversidade e os recursos naturais que o Brasil possui são encarados hoje como um grande baú de ouro. Os olhos de toda a comunidade mundial estão voltados para este mega-éden que se pode encontrar em qualquer lugar que se olhe nesta terra. Cuidado é pouco. O brasileiro tem que aprender, de uma vez por todas, a respeitar o que provavelmente irá salva-lo daqui a uns (poucos ?) anos. Governantes, seja lá como for, parecem já ter entendido o recado. Mas, e quanto a você, leitor?

9 Comments:

  • a proteção ambiental está em alta mesmo, mas não sejamos inocentes..... empresas só a exercem porque ganham descontos no leão e incentivos variados. já é um começo, mas convenhamos, não é o ideal.
    Muito boa a matéria, bem escrita. Continue assim.

    Amália Andrade - Jornalista
    Gazeta Mercantil

    By Anonymous Anônimo, at segunda-feira, 11 setembro, 2006  

  • outro dia estava lá no jardim botânico de brasília. tinha umas meninas fazendo pique nique, coisa q eu nem sei se é permitido por aquelas bandas. acredita q elas deixaram todo o lixo lá? absurdo!!!!!

    By Anonymous Anônimo, at segunda-feira, 11 setembro, 2006  

  • eu não seria tão otimista quanto a colunista... em ano eleitoral a gente vê de tudo!
    mesmo assim, o texto está ótimo, muito bem apurado.
    o caminho é esse mesmo!

    By Anonymous Anônimo, at segunda-feira, 11 setembro, 2006  

  • e qu q tive o pára-brisa do meu carro trincado pq um homem jogou uma garrafa de cerveja pela janela do carro dele, q estava na minha frete? além de absurdo, parece-me bizarro!

    By Anonymous Anônimo, at segunda-feira, 11 setembro, 2006  

  • ótimo texto querida!!! beijos!
    Luciana Motta

    By Anonymous Anônimo, at segunda-feira, 11 setembro, 2006  

  • Eu concordo que o povo brasileiro não tem consciência ecológica. Esse padrão americano que estamos acostumados deturpa tudo, faz a gente achar normal o crescimento desvinculado à proteção ambiental. Felizmente, a coisa parece mesmo estar mudando. A sorte do brasileiro é ser dotado de alma sensível, é o que nos faz perceber que algo está errado. Isso é bom, muito mesmo.... só não devemos é deixar que atitudes de preservação partam dos governantes.... pq como disseram logo acima, em ano de eleição vê-se de tudo....

    Excelente texto.
    Um abraço, Rogério Mesquita

    By Anonymous Anônimo, at segunda-feira, 11 setembro, 2006  

  • Boa matéria... concordo em parte, não seria tão otimista!

    By Anonymous Anônimo, at quarta-feira, 13 setembro, 2006  

  • Boa matéria... concordo em parte, não seria tão otimista!

    By Anonymous Anônimo, at quarta-feira, 13 setembro, 2006  

  • Boa matéria... concordo em parte, não seria tão otimista!

    By Anonymous Anônimo, at quarta-feira, 13 setembro, 2006  

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